Autor: Giancarlo Galdino

“Elysium” vai muito além de apontar métodos comprovadamente falhos das forças policiais num futuro apocalíptico ainda distante, porém dia a dia mais verossímil. Numa das mais bem contadas histórias sobre a incerteza que ronda a população do mundo inteiro, agravada por chagas muito próprias da pós-modernidade, Neill Blomkamp lança mão de emoções díspares e complementares entre si, como o amor e o ódio de uma humanidade bestializada, para especular sobre quanto tempo mais resistiremos a nós mesmos.

Os vários sentimentos, divergentes, mas complementares, que marcam a vida dos infaustos personagens de “Lendas da Paixão”, tornam-se indomavelmente destrutivos à medida que se tem cada vez mais explícita a certeza de que não estão a salvo da imoderação de sua própria natureza, e reagem a essa torturante evidência com toda a dissimulação de que são capazes, manifestando um desprezo cabal uns pelos outros.

“Dezessete”, o drama que registra o difícil amadurecimento de um garoto espanhol, nota a desarmonia entre intenção e a vida como ela é, mas o diretor Daniel Sánchez Arévalo tem seus truques para tornar a abordagem bem menos sombria. Sem enveredar para pregações nesse ou naquele viés, Arévalo deixa fluir um enredo caudaloso, mas orgânico, que pode muito bem se abater sobre o cotidiano da mais honrada das famílias.

“Nas Profundezas do Mar Sem Fim” encerra primeiro a dor inestimável de um casal e seus filhos lidando com a dor de uma ausência, e quando tudo parece encaminhar-se para a resiliência ou para acomodação, como um espinho que nunca deixa de magoar a carne, mas acaba por fundir-se a ela, dando origem a um novo organismo, uma descoberta involuntária lança por terra quaisquer certezas.