Livro comprova a ligação de Pablo Escobar com governo cubano de Fidel e Raúl Castro

“Pablo Escobar — Ascensão e Queda do Grande Traficante de drogas” (Planeta, 383 páginas, tradução de Eric R. R. Heneault e Olga Cafalcchio), do jornalista e ex-prefeito de Medellín Alonso Salazar, é um livro devastador. Ao investigar a história, Salazar revela uma teia corrupta que, enquanto quis, manteve o narcotraficante vivo.

Pablo Escobar mandou matar candidato a presidente, Luis Carlos Galán, juízes, empresários, jornalistas, rivais e ex-aliados. Sequestrou políticos e empresários. Inundou o mundo com a cocaína produzida na Colôm­bia e, mesmo todos sabendo que era traficante, chegou a ser parlamentar. Mudou leis, travou a aprovação de um projeto de lei que propunha a extradição de traficantes de drogas para os Estados Unidos. Comprava políticos, policiais, empresários, artistas famosos, jogadores de futebol. Era temido e admirado. Participou de um carnaval no Rio de Janeiro, saiu com mulatas e tinha predileção por mulheres virgens. Um de seus sócios, Pablo Correa, “‘importou’ uma mulata para aumentar seu harém”.

Quando avaliou que pretendiam matá-lo, negociou com o governo, por intermédio de advogados e políticos, e se entregou. Na prisão, comportava-se como rei. Mandava em todos, até no diretor. Ao perceber que poderiam matá-lo na penitenciária, escapou com facilidade. Na verdade, o local era um esconderijo bem protegido, e não uma prisão de verdade. Pablo Escobar se tornou um poder paralelo e começou a incomodar as elites da Colômbia. Formou-se uma coalizão entre o governo, forças policiais (parte havia sido corrompida), paramilitares, Estados Unidos e até o Cartel de Cali para caçar e matar o poderoso chefão (seu filme predileto era “O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Coppola; os “padrinhos” mafiosos Vito e Michael Corleone eram suas inspirações). O motivo? Pablo Escobar se tornara incontrolável. Era Executivo, Legislativo, Judiciário e Carrasco. Todos passaram a temê-lo — inclusive os aliados. Em 1993, depois de isolá-lo, matando, prendendo ou cooptando seus aliados, a polícia o matou.

O livro documenta as relações da esquerda colombiana com Pablo Escobar, que, por sinal, se dizia esquerdista. O Movimento 19 de Abril manteve relações estreitas com o narcotraficante. Líderes do M-19 admiravam o criminoso e eram idolatrados pelo ser que se julgava uma espécie de Estado em forma de homem. O Luís XIV da cocaína.

A ligação com a esquerda colombiana explica a conexão de Pablo Escobar com os sandinistas na Nicarágua e os comunistas de Fidel Castro e Raúl Castro. O narcotraficante também mantinha ligação com o panamenho Manuel Noriega, que, de amigo, se tornou inimigo dos Estados Unidos. “Não há ninguém mais perigoso que um ex-amigo”, escreveu Pablo Escobar sobre a relação de Noriega e com os EUA.

Na década de 1980, o Cartel de Medellín se aproxima do governo de Cuba. O relato de Salazar: “Pablo fizera contato com oficiais cubanos que lhe permitiam operar através da ilha — ponto geográfico estratégico para o envio de cocaína aos Estados Unidos —, por isso ficou surpreso quando um de seus homens no Panamá lhe anunciou que outro oficial cubano, o capitão Martínez, das Forças Armadas Revolucionárias, queria fazer negócios com ele”. Tony de la Guardia, primeiro, e o general Arnaldo Ochoa, em seguida, mantinham contato com os homens de Pablo Escobar.

Pabo Escobar
Pablo Escobar — Ascensão e Queda do Grande Traficante de drogas

“Em abril de 1988, homens de Pablo, entre eles Fernando, o Negro Galeano, reuniram-se em Havana com” os oficiais La Guardia e Arnaldo Ochoa. “Foram recebidos em instalações militares, transportados em carros oficiais, alojados em casas de luxo e convidados a recepções com personalidades como o ministro da Defesa, Raúl Castro. Os oficiais e os homens de Pablo, em reuniões privadas, especularam sobre a possibilidade de fabricar dólares e instalar um laboratório de coca em Angola. Ao regressar a Medellín, os homens contaram a visita a Pablo. Pelas condições nas quais haviam sido atendidos, acreditavam que se tratava de contatos do mais alto nível. Concordaram em bombardear cocaína com avião nos limites das águas jurisdicionadas de Cuba, de onde seria recolhida por lanchas rápidas que a levariam até as praias dos Estados Unidos.” A operação era semanal.

A CIA informou o presidente Bill Clinton de que Cuba estava envolvida com o Cartel de Medellín. Clinton, que mantinha relações cordiais com Fidel Castro, o avisou. A partir daí, com receio de um escândalo internacional — afinal, associar-se com traficantes de cocaína não é politicamente correto —, o governo do ditador decidiu punir aqueles que negociavam com Pablo Escobar. Arnaldo Ochoa, um herói para os cubanos, e Tony de la Guardia foram fuzilados. Fidel Castro “tirou” o corpo fora, disse que não sabia de nada e pegou Arnaldo Ochoa para bode expiatório — escondendo a informação de que Raúl Castro havia se encontrado com integrantes do Cartel de Medellín, em Cuba.

As relações de Cuba com o Cartel de Medellín começaram a desandar. Pablo Escobar mandou Yaír, ex-guerrilheiro do M-19 e amigo dos cubanos, “para apresentar suas queixas à alta hierarquia”. No entanto, o governo de Fidel Castro “afirmou enfaticamente desconhecer qualquer transação com narcotraficantes. (…) Mas membros do Cartel continuaram presumindo que pelo menos Raúl Castro, cujo filho viajava com frequência a Medellín, estivesse a par de tudo”. O que se sabe é que pelo menos 6 toneladas de cocaína do Cartel de Medellín circularam no território cubano — com destino aos Estados Unidos.

Entre as décadas de 1980 e 1990, a economia de Cuba estava quebrada. Os dólares do Cartel de Medellín eram, portanto, bem-vindos. E se a cocaína era para “prejudicar” um país inimigo, os imperialistas Estados Unidos, menos mal. Esta, possivelmente, era a tese dos irmãos Castro. Ganhavam dinheiro fácil dos colombianos e “sujavam” a abominável terra dos americanos. Porém, com a descoberta pela CIA e ante a possibilidade de escândalo internacional, os irmãos Fidel e Raúl Castro recuaram e arranjaram um grupo de “culpados”.