Eleito por críticos como melhor filme de todos os tempos, obra-prima de Hitchcock está na Apple TV Divulgação / Alfred J. Hitchcock Productions

Eleito por críticos como melhor filme de todos os tempos, obra-prima de Hitchcock está na Apple TV

“Um Corpo que Cai” está entre os filmes que mais deixaram marcas no cinema mundial, sendo considerado por muitos como o melhor filme de todos os tempos. Esse longa-metragem representa o ápice da carreira de Alfred Hitchcock, contribuindo significativamente para os estudos de linguagem e teoria cinematográfica.

A trama nos apresenta John Ferguson, ou Scottie (James Stewart), um detetive acrophóbico. Certa noite, durante uma investigação, John enfrenta sua vertigem ao ter que pular do telhado de uma casa para outra, incidente que o impede de prosseguir com seu trabalho habitual. Em um dia subsequente, seu amigo Gavin Elster (Tom Helmore) lhe propõe um trabalho especial: seguir sua esposa, Madeleine Elster (Kim Novak). John aceita a tarefa, ficando responsável por vigiá-la pela cidade. Madeleine demonstra uma peculiar atração por lugares altos, forçando o detetive a confrontar seus medos mais profundos. Ele começa a suspeitar que a mulher possa estar mentalmente perturbada, exibindo possíveis tendências suicidas.

Com toda a genialidade de Hitchcock, o filme discute intensamente o conceito do olhar. Logo no início, somos confrontados com um olho iluminado por uma luz vermelha, de onde surge o título “Vertigo”, emergindo da pupila. Descobrimos mais tarde que Madeleine é, na realidade, Judy (também interpretada por Kim Novak). Durante o primeiro ato, John a observa intensamente. “Madeleine” personifica o cinema: ela anseia por ser vista, consciente de que está sendo observada, mas nunca retribui o olhar. O figurino e o estilo de seu cabelo também são comunicativos; o cabelo preso, expondo a nuca, confere à personagem uma vulnerabilidade e sensualidade. Por outro lado, um cabelo longo que cobre a nuca indicaria uma persona mais reservada e tímida.

Hitchcock frequentemente compara suas heroínas a salas de estar. Ele idealiza damas sofisticadas e educadas que, ao entrarem em um quarto, se transformavam. Madeleine/Judy encarna essa dualidade, sendo ao mesmo tempo elegante, refinada e inegavelmente sensual. Sua presença hipnótica, a forma imponente e sedutora como se movimenta, juntamente com os ângulos de câmera, realçam essa complexidade.

Ao longo do filme, ela é retratada diversas vezes em perfil, com uma fotografia que enfatiza luzes verdes e vermelhas no fundo. O vermelho simboliza a intensidade, a sensualidade e a paixão ardente que Scottie desenvolve por ela, enquanto o verde alude ao mistério e à grandiosidade. Essas cores permeiam vários momentos do filme, transmitindo significados precisos quando surgem.

O filme se destaca por seu melodrama, com a exacerbação das emoções dos personagens: amor, medo, curiosidade, raiva e tristeza. Em “Um Corpo que Cai”, a paixão de Scottie por “Madeleine” transcende as circunstâncias, inclusive o fato de ela ser a esposa de seu amigo. Ele se entrega a esse amor, colocando-o acima de todas as coisas.

Quando Madeleine morre, Scottie se deprime, culpando-se pelo trágico evento. O filme amplifica esse sentimento, característica comum em melodramas, onde o público também se envolve profundamente com os intensos desejos e sentimentos dos personagens. Assim, quando “Madeleine” e Scottie se unem, o público anseia por essa relação, mesmo ciente de sua natureza adúltera, pois percebe que tal união poderia trazer felicidade a ambos. Nesse contexto, questões éticas e morais se tornam secundárias diante da força dos sentimentos.

Tecnicamente, o filme é impecável. Cada escolha técnica contribui de forma vital para a narrativa. Por exemplo, nas cenas em que Scottie sofre de vertigem, a tela se distorce, acompanhada por uma trilha sonora desesperadora. O primeiro beijo entre Scottie e “Madeleine” é embalado pelo som das ondas quebrando nas rochas, com uma música intensa e emocionante ao fundo. Quando o suspense se intensifica, a iluminação diminui e a trilha sonora torna-se mais sinistra.

A cena em que Judy se transforma em Madeleine é tecnicamente impactante, sugerindo que Madeleine tenha ressuscitado. O ato final prepara o público para esse momento, e quando ocorre, é triunfante. Mesmo conscientes da relação problemática, somos cativados por “Madeleine”, uma figura fascinante que ansiávamos ver novamente.

Portanto, fica evidente que Hitchcock foi meticuloso em cada detalhe deste filme. Todos os elementos convergem para criar esta obra-prima que nos emociona, surpreende e encanta com sua genialidade. “Um Corpo que Cai” é um filme repleto de reviravoltas, paixão, medo, suspense e mistério, hipnotizante e absolutamente imperdível.


Filme: Um Corpo que Cai
Direção: Alfred Hitchcock
Ano: 1958
Gêneros: Mistério/Thriller
Nota: 10/10