No momento em que descobriu o veio dos atiradores de elite da polícia como os personagens centrais de histórias sobre delitos contra o sistema financeiro, roubos a bancos e ataques terroristas em que nem sempre os agressores terminam estraçalhados junto com suas bombas, Hollywood inaugurou uma nova fase para os filmes de ação. “S.W.A.T — Comando Especial 2”, uma sequência gourmetizada do longa dirigido por Clark Johnson oito anos antes, embora também valha-se de cenas marcadas pelo caos da rotina de policiais especializados em atocaiar bandidos em suas próprias armadilhas e fazê-los sair a todo custo — inclusive, claro, mortos —, maçante depois de algum tempo, não precisa de tanto para convencer o espectador da veracidade do enredo. Benny Boom, toca, a seu modo, o desajuste fundamental desses homens para com a vida e para com a vida que levam. Fiel à máxima latina que prega castigar os costumes com uma análise bem-humorada, ainda que satírica e carrancuda muitas vezes, o diretor equilibra as situações absurdas que cercam o cotidiano de seus personagens com aquela bem-vinda desordem interior, que nunca se sabe se causa ou consequência da vocação para o ofício. Transformando sofrimento em leveza, Boom faz justiça ao apelido que o consagrou em besteiróis fáceis como “Cadê a Minha Entrega?” (2009), ou “All Eyez on Me” (2017), sua leitura da vida do rapper americano Tupac Shakur (1971-1996).
O roteiro de Ed Arneson, Michael Albanese, Randy Walker e Reed Steiner começa da mesma forma como tantos outros. Uma panorâmica de Los Angeles situa o público na atmosfera quase farsesca daquele lugar incomum, restando a impressão de que nada jamais sai do controle ali. Mas a Cidade dos Anjos também tem seus demônios, e Paul Cutler é um dos guerreiros a investir contra o mal. A temperatura meio baixa, entre 14 e 22 graus, não espanta os convidados de uma festa na piscina de uma mansão do que parece Beverly Hills, um prato cheio para qualquer trama congênere. Não demora para que o baile comece a desandar, e a chegada de um traficante, para a cobrar a dívida de Danny Stockton, o anfitrião vivido por Matt Bushell, poderia terminar em tragédia não fosse, claro, o herói em torno de cujo eixo “S.W.A.T 2” gira. Toda essa sequência serve de apresentação a Cutler, com Gabriel Macht no ponto certo entre o galã, o antimocinho e o sujeito atormentado por saber-se convicto de suas escolhas ao passo que cada vez mais prisioneiro delas. Como prova da gratidão do Departamento de Polícia de Los Angeles, o capitão Simon de Dennis North oferece-lhe uma transferência para Detroit — enquanto outros colegas vão para Miami ou para o Havaí —, e ao cabo de uma breve e informalíssima negociação, Cutler aceita deixar seu pedaço de paraíso, agora como tenente.
O segundo ato continua nessa mesma toada, dispondo Macht no centro de perseguições que exigem-lhe cada vez, mas com variações retóricas estimulantes. Se antes Cutler sofria com renúncias compulsórias a namoros que pretendia transformar em casamento, a exemplo da relação com Trish Maywell, de Iris Frank, agora, mesmo que quisesse, não se desenrosca da promotora Rose Walker, interpretada por Kristanna Loken. No desfecho, como não poderia ser de outro jeito, seu lado S.W.A.T fala mais alto, num embate bem conduzido com o Walter Hatch, o vilão de Robert Patrick.
Filme: S.W.A.T — Comando Especial 2
Direção: Benny Boom
Ano: 2011
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10