Quando pensa nas comédias dos anos 2000, você talvez não saiba, mas o nome por trás de boa parte delas é Judd Apatow. O diretor e roteirista casado com a atriz Leslie Mann é o homem por trás de produções conhecidas, como “O Virgem de 40 Anos”, “Ligeiramente Grávidos”, “Superbad: É Hoje”, “Quase Irmãos” e mais um tanto bom de outros filmes que te fizeram rir ao longo das duas últimas décadas.
Apatow também é o nome por trás de “O Rei de Staten Island”, comédia que dirigiu e escreveu ao lado de Pete Davidson e Dave Sirus. O enredo, inspirado na vida do próprio roteirista e protagonista, Pete Davidson, é sobre Scott, um tatuador de 24 anos traumatizado pela perda do pai, um bombeiro que morreu em serviço. Além de déficit de atenção, Scott usa muitas drogas, entre elas maconha, para aliviar os sintomas da doença de Crohn. Sem foco e sem perspectivas de uma carreira em qualquer coisa, ele vive com sua mãe e faz besteiras o tempo todo, sendo alvo de constantes preocupações da família. Enquanto isso, sua irmã mais nova, que é considerada a “normal” da família, sai de casa para fazer faculdade. Ela é interpretada por Maude Apatow, filha do diretor na vida real.
Scott é irresponsável, inconsequente e despreocupado e anda com um grupo de idiotas iguais a ele. Constantemente se metendo em confusão, ele não consegue fazer absolutamente nada certo. Quando, um dia, tatua um menino de apenas 9 anos, o pai do garoto aparece na porta de sua casa para tirar satisfação. O homem, então, conhece a mãe de Scott, por quem se apaixona. O problema é que ele também é um bombeiro, o que deixa Scott enfurecido.
Ao longo do filme, acompanhamos a estranha, bizarra e tragicômica jornada do protagonista para tentar se encontrar na vida. Sempre dando trabalho para as pessoas que o ama, ele justifica suas atitudes contra o namorado da mãe como uma tentativa de protegê-la de uma nova perda. A verdade é que Scott é quem tem dificuldades para seguir com a própria vida após a morte do pai.
Embora Pete Davidson seja bem-sucedido como comediante, ao contrário de seu personagem que não é bom em nada, boa parte do roteiro é sobre sua própria vida. O pai do ator era Scott Davidson, um bombeiro que morreu enquanto tentava salvar pessoas no World Trade Center, no 11 de setembro. Pete tinha apenas 7 anos e conta que ficou esperando o pai buscá-lo na escola, o que nunca aconteceu. Ele só soube que o pai havia morrido dias depois, porque a mãe o proibiu de assistir os noticiários. Em entrevistas, o ator já falou como a morte do pai o afetou e fez com que ele desenvolvesse estresse pós-traumático e outros problemas que abalaram sua confiança e autoestima.
“O Rei de Staten Island” é considerado por Pete como um retrato transparente dele próprio, uma forma de mostrar para o público que o acompanha como ele se enxerga. O ator afirmou, em um vídeo sobre o filme, que o processo de filmagem só foi fácil, porque ele estava cercado de atores que se importavam com seus sentimentos e perguntavam sempre se ele estava bem em gravar aquelas cenas. O longa-metragem é uma espécie de degrau que ele teve que subir para atravessar um período difícil de sua vida, para que pudesse encontrar a cura. Quem assiste a comédia ciente de que esta é a história real do ator que a protagoniza, percebe como a arte serve, neste momento, como um processo catalisador para que ele siga em frente e abandone seu luto. Também é uma forma bem-humorada de enxergar situações trágicas e desesperadoras da vida.
Uma curiosidade é que ator Steve Buscemi, que faz uma breve aparição como um bombeiro colega do namorado de sua mãe, foi bombeiro na vida real e, também, ajudou no resgate a vítimas durante os atentados de 11 de setembro, nas Torres Gêmeas.
Título: O Rei de Staten Island
Direção: Judd Apatow
Ano: 2020
Gênero: Comédia
Nota: 8/10