Ler faz bem. Mas rir é o melhor remédio

Ler faz bem. Mas rir é o melhor remédio

Pegue tudo o que você conhece de Literatura Brasileira e vire do avesso (na verdade eu nunca consegui virar um livro do avesso; depois você me conta como é que faz), porque Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira, de Edson Aran — e primeiro livro lançado pela Revista Bula — não é uma visão-bem-humorada-acerca-da-nossa-literatura. Isso é coisa de blogueirinho influencer. O que Aran faz é escrachar por completo as letras pátrias, não deixando parágrafo sobre parágrafo. E antes que você me acuse de invejoso fazedor de gracinha na resenha para roubar o show do autor, só digo duas coisas: 1) é verdade e 2) continue lendo a resenha.

Tem de Pero Vaz de Caminha escrevendo guias turísticos até Gonçalves Dias aparecendo do nada numa praia carioca hoje e quase levando bala na fuça. Tem do bate-boca — digamos — politicamente incorretíssimo entre Machado de Assis e José de Alencar na Confeitaria Colombo até Monteiro Lobato passando vergonha em programa de auditório. Tem de Oswald de Andrade às voltas com ninjas assassinos até Rubem Fonseca batendo cabeça até encontrar o nome para o Mandrake. E sobra também para o Paulo Coelho — óbvio. Mas chega de spoiler. Leia o livro e, durante o processo, tente ficar mais de dez segundos seguidos sem rir.

A obra dá uma ressuscitada em um estilo que parecia dormente nos últimos tempos: o esculacho literário, em que já brilharam Ambrose Bierce, H. L. Mencken, Robert Benchley, Woody Allen (sério que você só conhece o Woody Allen cineasta e nunca leu um livro dele? Ah, vá) e, aqui no Brasil, Campos de Carvalho e ele, o primeiro e único — Millôr, claro.

“Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira” é tudo o que a gente queria ter aprendido na escola, mas que os panacas dos professores sonegavam em favor da sem gracíssima versão oficial. E aqui não resisto: a pena de Edson Aran não tem pena de nenhum escritor nem de escola literária alguma, e ele há de me perdoar o trocadilho (ah, sim, os trocadilhos do livro também são excelentes), mas tenho razões de sobra para falar de pena: é que os desenhos também são do autor, e estão à altura do texto. Ou o texto está à altura deles — você lê e decide.

Se até aqui eu não convenci você a ler o livro, um de nós dois tem problema. E não sou eu. A solução é simples: leia, esquecendo que vivemos neste país e sob este governo, e ria, ria, ria, como faz tempo você não ri. Só lembre de não tentar virar o livro do avesso. Pelo menos até terminar de ler.