Os 10 melhores faroestes de todos os tempos

Os 10 melhores faroestes de todos os tempos

Essa lista trata dos melhores faroestes já feitos. Mas qual seria o maior faroeste não feito? Um grande filme de Faroeste seria a adaptação de “Meridiano de Sangue”, de Cormac McCarthy, dirigida por Sam Peckinpah, com Marlon Brando no papel do Juiz Holden. Sem dúvida, esse longa encheria os olhos dos apreciadores da literatura bruta e realista do escritor americano. Bom bebedor e bom de briga, Peckinpah, costumava dizer que não engolia desaforos, tinha a verve violenta do típico cowboy, rústico e decidido. Peckinpah foi o autor de “Pistoleiros do Entardecer” (1962), que segundo Ephraim Katz é “um glorioso poema visual de amor ao Oeste americano e seu legado transitório”, e “Meu Ódio Será sua Herança”, clássico entre clássicos e, indiscutivelmente, um dos maiores faroestes da história do cinema. Ambos são produtos de um diretor disciplinado, inserido em sua arte e capaz de realizar a proeza de mostrar o velho oeste americano em sua totalidade: frio, cruel e sanguinário.

Nesse universo paralelo e impossível, Sam teria que suar a camisa para rebaixar ao segundo lugar o grande faroeste de todos os tempos, “Rastros de Ódio”. John Ford, autor do melhor filme do gênero americano por excelência, cabe, no mínimo duas vezes, em qualquer lista curta dos melhores faroestes de todos os tempos. Ver o seu xará, John Wayne, emoldurado pela porta da velha casa, capturada pela câmera precisa, sem dúvida, é uma das coisas mais intimistas e belas do cinema. “O Homem que Matou o Facínora” tem um lugar cativo no cânone, mas é a frase de efeito, uma das melhores da sétima arte, que imortalizou o longa na memória coletiva: “Quando a lenda é maior que o fato, publique-se a lenda”, que precisa reverberar para todo o sempre. De lenda John Ford entendia. Sua personalidade forte e seu mau humor eram históricos. Seu comportamento e suas atitudes transformaram ele próprio em uma lenda.  Para evitar a edição equivocada de seus filmes, coisa que o incomodava sobremaneira, Ford desenvolveu uma técnica de montagem na câmera. Ele filmava o que achava necessário e, assim, impedia que, por determinação do estúdio, outras cenas fossem acrescentadas onde ele não queria.

O grupo dos grandes diretores de filmes de faroeste conta com o inusitado diretor italiano Sergio Leone. Consagrado pelo popularmente conhecido Spaghetti Western, o diretor do clássico “Era Uma Vez no Oeste” consolidou-se como um dos grandes do gênero graças a essa obra-prima do velho oeste.

Dentre todos, o mais carrancudo e imortal, também por estar por trás e na frente das câmeras, é o eterno Dirty Harry, Clint Eastwood. O ator da Trilogia dos dólares, ou Trilogia do homem sem nome: “Por um Punhado de Dólares” (1964), Por uns Dólares a Mais” (1965) e Três Homens em Conflito” (1966), dirigidos por Sergio Leone, que é um dos maiores diretores atuais, também imortalizou-se no faroeste com o impressionante e excelente “Os Imperdoáveis”. A direção segura de Eastwood, densidade de sua personagem e as ótimas atuações de grandes atores como Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris, além de um roteiro impecável, tornaram esse longa um marco do western.

O fato é que a lista dos grandes diretores e atores que compõem o universo dos filmes sobre o velho oeste, das personagens emblemáticas, com suas desventuras, lutas e jornadas terríveis e solitárias, é longa e formidável. “Rastro de Ódio” é, sem dúvida, neste estilo, a coisa mais bem realizada. O apuro técnico, a atuação do astro John Wayne, a fotografia primorosa, uma história poderosa e bem contada, colocam esse filme na lista dos melhores filmes de todos os tempos, extrapolando seu gênero de origem. Ainda que fosse possível, no universo hipotético sugerido no início deste texto, que Sam Peckinpah transportasse para a grande tela o magnífico “Meridiano de Sangue”, com seu vermelho cortante e cruel, real demais para qualquer diretor, com toda a sua capacidade de transpor uma violência gráfica das linhas do livro para o cinema, o diretor teria que se superar, e muito, para conter a força arrebatadora de “Rastros de Ódio”. Mesmo a imagem de Holden, enorme e imponente, caminhando como miragem no deserto, com seu escravo arrastado por uma coleira, uma das imagens mais cinematográficas do livro, o velho Sam teria que tirar do nosso imaginário o retrato cativante de Ethan, com sua estrutura contemplativa, frente a um dos mais belos horizontes já capturados.

Uma curiosidade sobre faroestes é que, para este gênero, os filmes mais antigos não são datados. A tese de que quanto mais velho melhor, parece valer para os clássicos filmados nas décadas de 1950 e 1960. Estão em um período da história mais próximo dos eventos que pretendem relatar. Ou seja, as atuações, o apuro técnico, a qualidade tecnológica e gráfica, o método, parecem reproduzir um comportamento que simula a época dos westerns. Por exemplo, o rancho Starrett é, provavelmente, muito semelhante às construções das fazendas do sul dos Estados Unidos da América dos anos de 1950 — 1960.  Os galãs feios, tipos com afinidade ao homem rústico, o cowboy, ou homens elegantes em papéis de brutos incorrigíveis surgem nesse contexto, permitindo que o típico pistoleiro, o marshall ou o ranger, possa ser identificado com figuras como as de Willian Holden, Gary Cooper e John Wayne. Eles dão o tom, mas têm em sua formação, em seu estilo e em seu comportamento a rudeza necessária para os tipos do velho oeste. À medida em que os rostos e as atuações suavizam-se, os cowboys se distanciam dos reais e os westerns contemporâneos tornam-se filmes mais superficiais. Assim, a lista dos melhores filmes de faroeste tem uma densidade maior no século passado. Parece não se equilibrar com a tecnologia ou os novos costumes. Não basta apurar a técnica para fazer com que um estilo cinematográfico seja fiel à história. É preciso que sua rispidez natural, sua rugosidade orgânica e a brutalidade de seu tempo esteja presente no sentimento de seus realizadores.

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