A história ensina que qualquer homem pode ser assassinado

A história ensina que qualquer homem pode ser assassinado

Jair Bolsonaro foi esfaqueado por um homem que agiu só. Pessoas determinadas dificilmente podem ser contidas por aparatos de segurança

Michael Corleone diz, em “O Poderoso Chefão”, que, “se há alguma coisa certa nesta vida, se a história nos ensinou alguma coisa, é que você pode matar qualquer um”. A história confirma a frase do mafioso ítalo-americano — um personagem de ficção que, de algum modo, é parte da realidade. Quando o capo siciliano Bernardo Provenzano, foi preso, numa aldeia da Itália, estava ouvindo a música do filme. Mafiosos mais jovens inspiram-se no glamour da arte do diretor Francis Ford Coppola.

Júlio César

Júlio César

Júlio César, o poderoso romano, foi assassinado, até com facilidade, por Brutus. Era fácil matá-lo? Não era. Por isso uma pessoa próxima foi recrutada para cometer o assassinato. O poder, qualquer que seja, jamais impede a ação determinada de uma pessoa.

Stálin, o mais cauteloso dos ditadores, usava até sósia para lugares tidos como perigosos. Era protegido, dia e noite, pela polícia secreta.

Abraham Lincoln

Abraham Lincoln

O presidente Abraham Lincoln liderou o Norte contra o Sul, venceu a guerra civil e unificou os Estados Unidos — possibilitando a expansão do capitalismo de modo unitário, ao subordinar uma região que mantinha mais ligação com o capitalismo inglês do que com o capitalismo ianque. Terminada a batalha, na qual morreram cerca de 600 mil pessoas, o político trabalhava para pacificar o país.

No entanto, Lincoln foi assassinado, num teatro, por John Wilkes Booth, que obteve cobertura de uma pessoa. A determinação do criminoso não pôde ser contida pelos protetores do notável leitor de Shakespeare e autor de discursos que, segundo o crítico Edmund Wilson, contribuíram para formatar a literatura concisa dos Estados Unidos. Hemingway seria filho dos manuais de redação dos jornais, ou de um jornal, e da prosa enxuta de Lincoln e Mark Twain.

Vladimir Lênin

Lênin, o político e intelectual que formatou a Revolução Russa de 1917, era protegido pela polícia secreta que criou. Mesmo assim, uma socialista revolucionária aproximou-se do líder bolchevique e o baleou, em 1918. O regime, que começava a ser totalitário, não conseguiu protegê-lo. O atentado foi cometido por uma mulher, Fanny Kaplan, altamente determinada e sem receio de ser presa ou morta. Contou com o fator surpresa, com o imponderável.

Hitler, que chegou ao poder pela via democrática, rapidamente se tornou ditador. O regime totalitário não permitia oposição e, em tese, todos apoiavam o líder nazista. Mesmo assim, sofreu tentativas de assassinato, ao menos uma delas quase bem-sucedida. Por que o aparato da SS, tão eficiente quanto cruel, não conseguiu protegê-lo? Porque indivíduos determinados decidiram que iriam matá-lo. Falharam, mas, a rigor, não foram contidos.

John Kennedy

Noventa e oito anos depois da morte de Lincoln, outro presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, foi assassinado, em 1963, em Dallas, Texas. Há teorias conspiratórias para todos os gostos, mas Lee Oswald agiu, aparentemente, sozinho. Ele deu o tiro que matou o líder do Partido Democrata e acabou com a era dourada dos americanos. Belos e glamorosos, Jack e Jackie Kennedy encantavam o mundo e pareciam monarcas, representantes da Corte de Camelot.

Por que Lee Oswald conseguiu matar um dos homens mais protegidos do mundo — o presidente dos Estados Unidos? Mais uma vez, a determinação do indivíduo fez a diferença. Os policiais que “protegiam” John Kennedy ficaram a ver navios.

Fidel Castro, a exceção

Fidel Castro é uma exceção. A CIA treinou pessoas para matá-lo — inclusive uma bela mulher, que acabou se apaixonando pelo ditador de Cuba —, mas não conseguiu. Por quê? Porque era tremendamente protegido? Talvez porque faltou determinação aos assassinos.

John Lennon

Artista famoso, John Lennon, um dos ases dos Beatles, foi assassinado em 8 de dezembro de 1980, aos 40 anos de idade, por Mark David Chapman. O criminoso diz que, ao ler o romance “O Apanhador no Campo de Centeio”, do recluso J. D. Salinger, “recebeu” uma mensagem para matar o cantor, compositor e músico britânico.

Mark Chapman era maluco? Talvez fosse. Mas era sobretudo um homem determinado. Decidira matar John Lennon e matou.

Olof Palme

Olof Palme, primeiro-ministro da Suécia, foi assassinado ao sair de um cinema em Estocolmo, em 1986. Não conseguiram protegê-lo. Políticos suecos são mais relaxados, dado o baixo índice de violência no país. Mesmo assim, há sempre alguém do serviço secreto por perto. No caso, o político escandinavo foi assassinado com extrema facilidade por um homem determinado.

Ronald Reagan e João Paulo 2º

Dois grandes personagens do século 20, Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos, e o papa João Paulo 2º, da Igreja Católica, foram feridos com alguma gravidade, em 1981. O líder político e o líder religioso estavam bem protegidos, mas a determinação de dois homens não pôde ser contida.

Com Ronald Reagan cercado por seguranças, altamente especializados, John Hinckley Jr aproximou-se e o alvejou. O jovem quase matou o presidente. O turco Mehmet Ali Agca, furando o bloqueio da segurança da Guarda Suíça, atirou no papa João Paulo 2º — quase matando-o.

Jair Bolsonaro

Os candidatos a presidente da República, os que querem, têm a proteção da Polícia Federal. Jair Bolsonaro é bem protegido, inclusive por militares — possivelmente da reserva. Mas Adélio Bispo de Oliveira prova, mais uma vez, que um indivíduo determinado dificilmente pode ser contido. Ele usou uma faca para ferir — com certa gravidade — o candidato do PSL a presidente da República.