A vaidade é como um pombo desembestado a nos borrar sobre os ombros

A vaidade é como um pombo desembestado a nos borrar sobre os ombros

Incontinência fecal é uma merda. Burrice, idem. Prefiro mil vezes os intestinos irritáveis do que as pessoas irritantes, as bocas torpes que vociferam, vomitam bravatas na arena-sem-lei das redes sociais, selva dos insensatos, covardes e sem noção. Aliás, em tempo: muito obrigado pelos comentários raivosos, por ocasião da minha última crônica. Eu já estava sentindo falta de ser xingado pelos néscios que não se amarram em leitura, muito menos, na boa e velha interpretação de texto. Sim, a ignorância é um limbo que leva o ser humano aos comportamentos mais estranhos, como fornicar com bocetas de borracha, rezar para estátuas de barro e compartilhar injúrias pela internet. O seu ódio não apenas será a minha herança, como também, um troféu a ser por mim dependurado na sala de estar, junto com as cabeças-de-bagre. Ufa! Quisera ser um peixe para saltar fora dessa Era de Aquário que, dizem, já está em pleno andamento.

Pelo andar da carruagem, sinto que esse texto não vai terminar bem. Há um nítido revanchismo da minha parte, é preciso admitir; paira um forte aroma de enxofre noir. Essas coisas acontecem: às vezes, dispenso o nanquim para escrever com a bile. Acordei bolado, abilolado, amargo e com um baita tesão de urina. Quisera me esfregar nas tetas de Jojo Toddynho ou, melhor ainda, se papai-do-céu me ajudasse, fazer filhos com a Isis Valverde.

Não, eu não dormi de calcas jeans. Acontece que eu tenho lá as minhas crises de impetuosidade. Apesar disso, acho que ainda acabo no céu. Sei que Deus quer assim. Queria tanto um bife com fritas, lamber uma hóstia consagrada, conhecer uma noviça com profundos dilemas celibatários. Às vezes, perco os modos, o juízo, as estribeiras, e até notas de 100 reais, um escândalo, contudo, nada se compara àquele sujeito que apareceu no noticiário das 8h, um médico tresloucado que utilizou um urinol de aço escovado para espatifar o vidro de um carro, a fim de tirar as chaves da ignição e distribuir tabefes em duas beldades que tinham feito escovinha nos cabelos e dirigiam na contramão. Vão dirigir mal assim lá em casa, mocinhas.

Ando intolerante com a parvoíce dos outros, doido para assediar uma colega de trabalho: “Posso te pagar um sapo, doçura?”. Não que eu seja uma sumidade em matéria de educação e cultura. Nada disso. Sofro também de baixos níveis de lítio e serotonina dentro da massa cinzenta, sem contar os lamentáveis acessos de histeria e grosseria, como pigarrear enquanto escrevo e cuspir na palma das mãos durante um ménage à trois. 2 contra 1. Sou sempre o voto vencido. Num mundo que prima pelo egoísmo, pela vaidade, pela conectividade e pela alta velocidade das informações, fico com aquela sensação de que o planeta nunca esteve tão chato desde que o homem perdeu o rabo e começou a caminhar. Queria comer o cu do mundo, só para me autopromover, algo que desse ibope no inferno nosso de cada dia.

Depois dos auditores fiscais da Receita Federal, minha mãe é a pessoa que mais se ocupa comigo. A senhorinha conta pra todo mundo que eu escrevo demais, muito mesmo, o dia inteiro, a depender do grau de ociosidade. Minha octogenária genitora vive dizendo que é para eu me cuidar, dessas coisas que diz toda mulher que já pariu, se é que me entendem; que eu devia aprender a tocar “Cotidiano” no violão, de Chico Buarque, o cantor mais charmoso da MPB; que eu não devia levar tão a sério os percalços da existência; que o mundo é miserável, a melhor idade é o que há de pior na vida de um ser humano, porém, apesar de tantos senões, viver é bom; e, por fim, que eu me torno eternamente responsável por aquilo que eu cativo (ela, por exemplo). Eu disse mãe, a senhora (nunca me acostumei a tratá-la por “você”), além de prolixa pra caralho, andou lendo de novo “O Pequeno Príncipe”. Não sou a última tornozeleira eletrônica da Polícia Federal. Não sou essa Coca-Cola toda que a senhora pensa. Eu não sou santo, mamãe.

E por falar no Saint-Exupéry, um recente caso bizarro, que nada tem a ver com o falecido escritor francês, abalou as estruturas do bairro onde ela mora. Isso vai dar, prometo, números finais a esta crônica confusa e redundante. Sucedeu uma coisa retumbante, impensável, com a vizinha da frente, uma cigana obesa que lia as mãos da gente em troca de moedas, pica ou pamonha, viciada em Cheetos, em sexo com adolescentes do sexo masculino e na publicação de futilidades na internet, e que tinha aparecido na reportagem “Idiota por um dia”, daquele famoso programa dominical-de-domingo-à-noite, só porque tinha quebrado a banca da audiência ao postar um vídeo que viralizou nas redes sociais, no qual ela aparecia seminua do pescoço para cima (graças ao bom Deus), enrodilhada numa píton amarela de quase cinco metros de comprimento, que ela criava em casa com se fosse um chaninho.

Na segunda-feira pela manhã, os moradores já estavam em polvorosa. Ninguém supunha que a adivinha balofa criava um ofídio na residência. Adivinhem o que aconteceu já na terça-feira (todos concordam que, aqui, precisamos de um epílogo, certo)? Fim da tarde, como era de se esperar, ela pega e não espera o marido no portão. Ressabiado, o sujeito, que nunca tinha ouvido falar em Chico Buarque, que trabalhava de escravo numa mansão de bacanas no Morumbi, adentrou o casebre e se deparou com um objeto esdrúxulo no meio da sala, algo que parecia ser um enorme chapéu amarelo. Ele só se deu conta que aquele trambolho não era um quepe, quando a aba do mesmo danou a bocejar e, eu não sei se vocês já sabiam disso, mas, as cobras, as serpentes, os répteis de maneira geral, assim como os seres humanos, bocejam, sim, senhores. A diferença é que elas não se auto-fotografam e não possuem uma conta no Instagram para postar as fotos.