5 cidades brasileiras onde ser esquisito é um elogio Foto / Dado Photos

5 cidades brasileiras onde ser esquisito é um elogio

Há cidades que não foram feitas para serem entendidas. A lógica urbana, com seus horários, rotinas e esquinas previsíveis, falha já na chegada. Não há linha reta que leve ao centro. Às vezes, nem centro há. Há igrejas tortas, escadarias que sobem para lugar nenhum, estátuas de seres que ninguém sabe ao certo se existiram. E há, sobretudo, uma atmosfera: espessa, um pouco úmida, como se a própria cidade respirasse de volta no rosto do visitante.

Gente que vive ali não se apressa. Não por afetação — mas por outro tipo de calendário. Um que responde ao nascer da neblina, ao humor da pedra, ao retorno do pássaro. As conversas se alongam, não pela importância do assunto, mas pelo prazer de testá-lo por dentro. É possível, nesses lugares, comprar um pão artesanal feito por alguém que lê tarô, enquanto espera a filha voltar de um retiro de silêncio. Ou encontrar um engenheiro que virou escultor porque sonhou com isso três vezes seguidas.

Sim, há certo exagero. Mas é um exagero íntimo. Nada ali é feito para agradar forasteiro. E talvez por isso mesmo, tudo ganha autenticidade. Máscaras usadas em festas não encobrem nada: revelam. O que se oferece ao estranho não é espetáculo — é espelho. E quem tem pressa, sente desconforto. Não há QR Code para entender o clima. Nem folder explicativo sobre o que se passa nas entrelinhas da arquitetura ou nas frases pausadas dos anciãos.

Ali, a esquisitice não é efeito da paisagem: é parte do pacto. Um tipo de pertencimento invertido, onde só fica quem aceita não ser decifrado. O normal é visto com cautela — às vezes, com pena. Afinal, o que é normal numa cidade onde a terra cura, o céu responde e as pedras guardam mensagens?

Não há resposta simples. Mas há uma certeza que se aprende devagar: em certos lugares, ser estranho é a única maneira possível de estar em casa.