Se a vida fosse uma prateleira de supermercado, os clássicos seriam aquelas latas de ervilha que ninguém sabe por que ainda estão ali. Claro, são nutritivas, mas quem realmente anseia por elas? Enquanto isso, há prateleiras repletas de delícias literárias modernas, esperando para serem descobertas. Por que não experimentar algo novo e saboroso?
Imagine-se em uma livraria, cercado por títulos que prometem aventuras inéditas, personagens cativantes e narrativas que refletem o mundo atual. Esses livros contemporâneos oferecem perspectivas frescas e histórias que ressoam com as experiências do século 21. É hora de explorar além dos clássicos e mergulhar em obras que capturam o espírito do nosso tempo.
Nesta seleção, apresentamos quatro livros que demonstram que a vida é curta demais para se limitar aos clássicos. Cada um oferece uma janela única para diferentes culturas, desafios e emoções. Prepare-se para rir, refletir e se emocionar com essas leituras imperdíveis.

Keiko Furukura, aos 36 anos, trabalha há dezoito em uma loja de conveniência em Tóquio. Desde a infância, sente-se deslocada, mas encontra na rotina meticulosa da konbini um refúgio que lhe proporciona pertencimento. A pressão social para que siga um caminho convencional — casamento e carreira “adequada” — a leva a iniciar um relacionamento de fachada com Shiraha, um ex-colega misógino e desajustado. No entanto, ao se afastar da loja, Keiko percebe que sua verdadeira identidade está intrinsecamente ligada ao ambiente da konbini. Este romance explora, com humor sutil e crítica social, as normas impostas pela sociedade japonesa contemporânea, questionando o que significa ser “normal” e a que custo se busca essa normalidade. A narrativa oferece uma reflexão sobre individualidade, conformismo e a busca por autenticidade em um mundo que valoriza a homogeneidade. Com uma protagonista inesquecível, a obra convida o leitor a reconsiderar os padrões sociais e a celebrar as singularidades que nos tornam únicos. Uma leitura envolvente que desafia convenções e celebra a liberdade de ser quem realmente somos.

Em uma ilha isolada, objetos e conceitos desaparecem misteriosamente, sendo apagados não apenas fisicamente, mas também da memória coletiva dos habitantes. Uma força autoritária, a Polícia da Memória, assegura que esses desaparecimentos sejam absolutos, eliminando qualquer vestígio remanescente. A protagonista, uma escritora, luta para preservar suas lembranças e proteger aqueles que ainda conseguem recordar. Conforme mais elementos do cotidiano somem, a realidade torna-se cada vez mais frágil e opressiva. A narrativa, impregnada de melancolia e tensão, explora temas como identidade, resistência e o poder da memória em meio à repressão. Com uma prosa lírica e atmosférica, o romance convida à reflexão sobre o que nos define e como a perda de memória coletiva pode corroer a essência da humanidade. Uma obra profundamente impactante que permanece relevante em tempos de crescente controle e censura.

Narrado por uma voz coletiva que representa a comunidade, este romance acompanha Gastón, seu amigo Max, o filho deste, Pol, e Gato, o cachorro de Gastón. A história se desenrola em um bairro ameaçado por gentrificação e xenofobia, onde Pol acredita em uma iminente invasão alienígena. Através de situações absurdas e diálogos afiados, a narrativa aborda temas como imigração, preconceito e o medo do diferente. A escrita de Villalobos combina humor e crítica social, criando uma sátira que reflete sobre a paranoia coletiva e a busca por culpados em tempos de crise. O uso da primeira pessoa do plural reforça a ideia de uma comunidade observadora e julgadora, ampliando o impacto das questões levantadas. Com personagens cativantes e situações inusitadas, o romance oferece uma leitura divertida e provocadora, que instiga o leitor a questionar suas próprias percepções e preconceitos. Uma obra atual e necessária que utiliza o riso como ferramenta de reflexão.

Marco Carrera, apelidado de “colibri”, é um oftalmologista que enfrenta uma série de tragédias pessoais ao longo de sua vida. A narrativa não linear revela, por meio de cartas, e-mails e lembranças, os eventos que moldaram sua existência, desde a infância até a velhice. Apesar das perdas e desafios, Marco mantém uma postura resiliente, buscando equilíbrio em meio ao caos. A metáfora do colibri simboliza sua capacidade de permanecer estático enquanto tudo ao redor se move. O romance explora temas como amor, luto, família e a passagem do tempo, oferecendo uma visão profunda e sensível da condição humana. A escrita de Veronesi é elegante e emotiva, conduzindo o leitor por uma jornada introspectiva e tocante. Uma obra que celebra a resistência do espírito humano diante das adversidades da vida.