Autor: Karen Curi

Não tenho medo da morte. Mas tenho medo de viver como se estivesse morta

Não tenho medo da morte. Mas tenho medo de viver como se estivesse morta

Não tenho medo do escuro, nem de gente e muito menos da solidão. Não me amedronta pensar em adoecer, ou que terei que mudar de país, de vida, de rumo. Não tenho medo da morte, da fome, do desemprego, de ser esquecida. Não temo a insegurança do amanhã, nem o futuro da humanidade. A única coisa que me deixa em pânico é não poder ser eu mesma. Essa é a minha grande paúra: a de me anular.

Permanecer com alguém por obrigação é morrer um pouco a cada dia

Sinto uma pontada no peito toda vez que escuto essa palavra: obrigação. Chego até a suspirar. Ela tem uma densidade, uma carga opressora que pesa mais que um elefante. Só o fato de cumprir com uma imposição, seja ela qual for, acaba com o tesão de qualquer um. Mas até aí tudo bem, porque é impossível seguir somente as nossas vontades, fazer só aquilo que nos dá prazer. Então a gente vai levando, exercendo a parte chata da vida. Nos acostumamos a responder mecanicamente às demandas da rotina, dos afazeres, dos compromissos. Normal. Todos nós somos cumpridores dos nossos deveres. Mas quando o assunto é amor, Deus que me livre do dever de amar.

Vemos através do que somos. Se somos ódio, cegos de ódio seremos

A afirmação de que todos nós precisamos de um espelho para nos lembrar quem somos é seminal. Porque somos o resultado das nossas colheitas e, se foram boas ou más, elas seguramente influenciarão o nosso juízo diante do novo. Vemos através do que somos. Se somos amor, veremos com amor. Se somos ódio, cegos de ódio seremos. Os ciclos se abrem e se fecham, se puxam, somam, enredam uns nos outros. Se remoermos tristeza, atrairemos rancor. Assim como a esperança traz felicidade e a gratidão leva a paz. É o olhar que direciona a nossa perspectiva.

Saudade é a sensação de que o mundo acabou e você continua vivo

Saudade é a sensação de que o mundo acabou e você continua vivo

E depois, o que fica? Depois das férias que te livrou da rotina extenuante, da insônia companheira, do cansaço incessante. Depois das madrugadas em festa e das gargalhadas que viram o dia amanhecer no chão da varanda. Depois da coragem ébria e seus planos mirabolantes e audaciosos. Depois do romantismo, do cavalheirismo, das cenas cinematográficas de beijos na chuva e brigas que terminaram em juras de amor eterno. Depois de décadas de amizade e cumplicidade que se perderam no tempo. Resta apenas a saudade.