Entre venenos discretos e sentimentos interditos, “O Jardineiro” mergulha num território onde a ausência de afeto se torna instrumento de morte. A série espanhola traça a jornada de um homem incapaz de sentir e sua estranha aproximação com a empatia, revelando como até o mais frio dos assassinos pode ser desestabilizado por algo que nunca conheceu: o impacto da sensibilidade.
Com ares de romance bucólico e atmosfera faroeste domesticada, “Ransom Canyon” aposta em triângulos amorosos previsíveis, heranças emocionais não resolvidas e rivalidades familiares suavizadas. A série tenta equilibrar a estética de “Yellowstone” com a leveza de “Virgin River”, mas entrega um drama que prefere a segurança do genérico à profundidade do autêntico, resultando em um enredo que se dissolve tão rapidamente quanto é absorvido.
O personagem-título de “O Jardineiro”, contudo, poderia passar toda a vida assim, gozando das muitas vantagens de não ser capaz de solidarizar-se com a dor alheia, até que misteriosamente começa a experimentar uma sensação inaudita, que talvez signifique o término de uma carreira respeitada no submundo, escondida por baixo de marias-sem-vergonha e crisântemos.
Essa é a imagem que a sueca Camilla Läckberg esforça-se para passar em “O Domo de Vidro”, na qual brinca com muitos dos espaçosos clichês das produções do gênero tratando de conferir substância dramática à narrativa valendo-se de argumentos diretamente proporcionais ao pretenso alcance mercadológico dessas publicações. Os diretores Henrik Björn e Lisa Farzaneh fazem o que podem com um texto claudicante, alongado ao máximo em tomadas excessivamente velozes, mas que carecem de unidade.
Mergulhada em uma atmosfera de tensão constante, esta minissérie conduz o espectador por um labirinto de segredos, onde a dor do luto se mistura à paranoia e cada pista desafia a lógica. Ao transformar uma perda pessoal em um jogo de espelhos turvos, a narrativa expõe o abismo entre o que se vê e o que se pode acreditar, mantendo a dúvida como única certeza possível — mesmo quando tudo ao redor insiste em oferecer respostas fáceis.
