Guy Ritchie sempre filmou o caos com um sorriso nos lábios. Sua assinatura era o descompasso estilizado entre o sangue e o riso: criminosos patéticos que se acham gênios, trambiques transformados em coreografia, tiros que soam como piadas internas. Mas em “Infiltrado”, o diretor abandona o sarcasmo britânico e se permite algo mais raro: o silêncio.
Num futuro regulado por planilhas e pareceres, a vontade de ter filhos depende de autorização. “A Avaliação” acompanha um casal submetido por sete dias à observação de uma funcionária que transforma a casa em laboratório doméstico. Dirigido por Fleur Fortuné, o longa combina humor seco e tensão psicológica para discutir como o controle administrativo invade afetos e rotinas. Alicia Vikander impõe presença inquieta, enquanto Elizabeth Olsen e Himesh Patel sustentam um duelo silencioso que revela desigualdades de gênero, culpa e conveniência política, temas que não se esgotam nos créditos.
Com “Romeu + Julieta”, Baz Luhrmann transporta Shakespeare para uma Verona Beach de publicidade onipresente e rivalidade apresentada como marca registrada de família. O verso elisabetano permanece, enquanto a encenação adota ritmo veloz, iconografia religiosa e ironia gráfica. Leonardo DiCaprio e Claire Danes sustentam o romance com vulnerabilidade e foco emocional. A combinação de música pop, edição acelerada e figurinos chamativos comenta honra, violência e espetáculo midiático contemporâneo, sem didatismo.
Baseado em memórias criminais, o filme acompanha a sedução do poder e o custo de pertencer a um grupo fechado. Com narrativa em primeira pessoa, humor áspero e atenção ao cotidiano, expõe como dinheiro fácil e prestígio caminham junto de medo e violência. A direção equilibra brilho e ameaça, enquanto o elenco dá medida humana às lealdades quebradiças. Sem glamorizar, observa ambição, culpa e sobrevivência em retrato de época que mantém rigor sobre desejos e limites sociais.
Há algo de deliciosamente incômodo em “Galera do Mal”, um filme que se disfarça de comédia colegial para, na verdade, esfolar o verniz moral de uma América que tenta conciliar fé e controle social. O que começa como sátira adolescente logo se revela um espelho distorcido (e dolorosamente reconhecível) de uma geração criada sob o dogma da pureza e o pavor da diferença.
