Entrevistas

A última entrevista de Vinicius de Moraes

A última entrevista de Vinicius de Moraes

Quando o jornalista Narceu de Almeida Filho bateu este longo papo com Vinicius de Moraes, em sua casa, bem situada numa tranquila rua da Gávea, no Rio de Janeiro, não poderia imaginar que, no momento da edição da entrevista, o Poetinha já não existisse mais. Vinicius estava todo animado, layout novo, de cabelos cortados, barba raspada, vestido elegantemente e sem o seu famoso boné que o acompanhou durante muitos anos. Havia emagrecido vários quilos e abandonado temporariamente as excursões musicais para dedicar-se, novamente, à poesia.

Mulher Maravilha desabafa: “Vida de mulher é uma droga”

Mulher Maravilha desabafa: “Vida de mulher é uma droga”

Desconfio que, por pura pirraça, fui intimidado, intimado pelo meu editor na Revista Bula a tomar um banho, cortar as unhas, fazer a mala e viajar para a Califórnia, a fim de entrevistar a Mulher Maravilha. Uma vez que não possuo cotas na Revista, não sou filho de ricos, não sou deputado federal, não sou dono de frigoríficos, não faço esquemas e ando bastante ressabiado por causa da galopante onda de desemprego que assola o Brasil, aceitei a missão, imbuído de pavor e da maior má vontade possível.

Clarice Lispector entrevista Pablo Neruda

Neruda é extremamente simpático, sobretudo quando usa o seu boné. Não brinca porém em serviço: disse-me que se me desse a entrevista naquela noite mesma só responderia a três perguntas, mas se no dia seguinte de manhã eu quisesse falar com ele, responderia a maior número. E pediu para ver as perguntas que eu iria fazer. Inteiramente sem confiança em mim mesma, dei-lhe a página onde anotara as perguntas, esperando Deus sabe o quê. Mas o quê foi um conforto. Disse-me que eram muito boas e que me esperaria no dia seguinte. Saí com alívio no coração porque estava adiada a minha timidez em fazer perguntas.

A última entrevista de Cecília Meireles

A última entrevista de Cecília Meireles

“Tenho um vício terrível” — me confessa Cecília Meireles, com ar de quem acumulou setenta pecados capitais. “Meu vício é gostar de gente. Você acha que isso tem cura? Tenho tal amor pela criatura humana, em profundidade, que deve ser doença.” “Em pequena (eu era uma menina secreta, quieta, olhando muito as coisas, sonhando) tive tremenda emoção quando descobri as cores em estado de pureza, sentada num tapete persa. Caminhava por dentro das cores e inventava o meu mundo. Depois, ao olhar o chão, a madeira, analisava os veios e via florestas e lendas. Do mesmo jeito que via cores e florestas, depois olhei gente.”

A última entrevista de Oswald de Andrade

A última entrevista de Oswald de Andrade

“Oswald não sorriu, mas ficou satisfeito. Ergueu-se um pouco na cadeira da qual se levantava com dores e problemas. Talvez quisesse provar-se que ainda lhe restavam energia e agressividade. O que o plano exigia, para pegar, era um Oswald irônico, destruidor e com muito recheio, igual ao dos primeiros retratos. Balançou a cabeça, aprovando. A oportunidade de escrever mais um livro, sem muito esforço, entusiasmava-o. Bastaria respondendo às perguntas. Em sua portátil, eu funcionaria como repórter e secretário. Mas logo a princípio, tornou-se evidente que a longa reportagem não poderia obedecer a um esquema rígido. Nada de ordem cronológica.”