Pensam-se absurdos quando a morte lambe os calcanhares
Quando Roberto começou a quebrar a mobília do consultório todos pensaram que ele estivesse ficando doido. Não estava. Tinha algo parecido com um ouriço-do-mar crescendo e se assanhando dentro dos seus miolos, quase ninguém sabia, não era por menos que se sentia mareado, melancólico, com saudades do mar e das marés, imbuído de uma vontade doída de se mudar, de morar numa cabana de palha na praia, para sair todos os dias de madrugada com amigos pescadores de todas as idades, a fim de fisgar com as próprias mãos os peixes que ele mesmo haveria de limpar, preparar e comer para se manter vivo nesse mundo-de-meu-deus.