Autor: Ruth Borges

‘Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado’

‘Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado’

O amor é um encontro entre quereres. Quando um não quer, dois não amam. É triste quando alguém se convence que é possível amar por dois. O coração maltrapilho se ilude a vestir, todos os dias, sua fantasia de ser-amado. Persiste em dançar sem se dar conta de que a festa acabou. Cadeiras empilhadas, música desligada, luzes apagadas. Não há mais uma alma viva no salão. É… o coração não sabe ainda, mas está em plena quarta-feira de cinzas.

Tu te tornas eternamente trouxa pela expectativa que cultivas

Tu te tornas eternamente trouxa pela expectativa que cultivas

Depois, a ficha cai junto com a cara no chão. A gente sente a pancada, bem forte na boca do estômago. É como um filme que paralisamos na cena de um nocaute. E mais tarde, ao apertarmos o play, a pancada vai certeira na alma. A vontade é de virar um cartoon, abrir um zíper nas costas e sair daquela pele, correndo. Em seguida, entrar num bar, levantar a mão para o garçom e pedir: — Outra vida, por favor!

‘Se você engolir tudo que sente, no final você se afoga’

‘Se você engolir tudo que sente, no final você se afoga’

Engole o choro. Engole sapo. Não diga, não quero saber. Cala a boca, cala o peito, cale-se! Mas o corpo fala, e como fala. Fala a ponta dos dedos batendo na mesa, fala o dente acirrado, rangendo estridente. Fala os pés inquietos na cama. Falam os olhos caindo tristonhos. Fala dor de cabeça, dor na alma. Fala gastrite, psoríase, fala ansiedade, fala memória perdida.

Como esquecer a pessoa amada antes que a vida termine

Como esquecer a pessoa amada antes que a vida termine

Tá decidido! É decreto, é resolução. Tem mandado expedido sob determinação do juiz da primeira vara dos corações falidos. É assim: se for me esquecer, esqueça-me bem devagarinho. Não arranque minha imagem aí de dentro logo pela manhã. Espera, vai. É só o tempo de organizar as coisas por aqui. Tá uma bagunça só! Têm pensamentos seus espalhados pra todo lado. Em cima da cama, no chão da sala, no caminho até o trabalho, nas canções do rádio. Você se deixou por toda parte. Quanto esquecimento!

‘O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades’

‘O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades’

Todo ser humano que se presta a viver há de padecer, cedo ou tarde, das imprevisibilidades da vida. A estrada entorta, o leite derrama, o amor esfria ou amarga feito café de ontem. A gente erra, perde, desacerta o passo. É traído pela sorte, toma rasteira, apanha do imprevisto feito condenado. Os planos sofrem fraturas expostas no caminho da estrada real, e nós, momentaneamente privados do prazer, largamos de seguir alegres e contentes no trilho descarrilhado de nossa miserável ilusão.