Autor: Ruth Borges

A misteriosa arte daqueles que desaparecem depois de um encontro

A misteriosa arte daqueles que desaparecem depois de um encontro

Tirar do esconderijo a obviedade que requer a execução de tal número, talvez não seja a mais difícil das revelações. Meia pitada de sinceridade e o segredo do moço ou da moça desaparecida fica tão óbvio quanto o coelho escondido no fundo da cartola. A verdade, sem efeitos especiais, é simples: o sujeito não quer. Não quer o depois do encontro. Não quer nada para amanhã. Sumiu porque não topa. Nessa história de abracadabra, todos nós, em algum momento da vida, caímos feito patos no truque; ou fomos nós os ilusionistas fugidios.

Não me leve a mal, me leve apenas para perto do mar

Não me leve a mal, me leve apenas para perto do mar

Trânsito parado. Buzinaço, panelaço, estardalhaço, monóxido de carbono, janelas, milhares de janelas. Muro pichado, rádio, reunião, relógio, urgência, mendigo, mágico, músico, maluco, grito, golpe, fora, dentro, fica. Gente, mais gente, o vendedor de pipoca rosa, amendoim, moleque da bala, limpador de para-brisa, manifestação, poluição, desnutrição — vende-se a felicidade no panfleto. Malabarista, palhaço, ricaço, pobraço, ativista, táxi, ônibus lotado, artista — no poste: “Trago seu amor em sete dias”.

Quando quiser ser ouvido não grite, silencie

Quando quiser ser ouvido não grite, silencie

O silêncio é uma lacuna passível de ser mal interpretada. O mais instigante é não saber o que ele significa exatamente — se é indiferença, cansaço, dor, medo ou se é alguém tentando nos esquecer. O silêncio que perturba é aquele que mais coisas diz. Há silêncios que respondem aos tolos: calam os opositores, desbancam os argumentos dos conflituosos insistentes. Há silêncios feitos para a alma respirar: permitem que o tempo traga respostas contundentes. Há silêncios que são covardia: vêm dos que não se resolvem, dos escorregadios, dos fugidios, dos que não se encaram de frente.

“Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito”

“Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito”

Ainda que não possamos evitar a raiva porque tudo deu errado, é nossa escolha não se acorrentar a ela. Não dá para negar a sensação de incômodo ao sermos invadidos, mas podemos dizer não e delimitar nosso espaço. Não é possível arrancar a mágoa fincando sobre o peito as unhas, mas é oportuna a escolha de perdoar. Não há virtude que nos faça enviar para a China o sentimento de incerteza quando a vida nos convida a decidir, mas é escolha não nos apegar ao que foi perdido e estar em sintonia com o que ganhamos.

Até caçar Pokémon é melhor do que correr atrás de um canalha

Até caçar Pokémon é melhor do que correr atrás de um canalha

Canalhas. Espécie Homo Sapiens Cafajesties Modernus. Não possuem habitat natural específico, estão por toda parte. Não fazem distinção do estado civil, nem de gênero, são homens e mulheres. Alimentam-se dos restos de corações abatidos e depois desaparecem sem deixar vestígios. O canalha atrai suas presas por simpatia, aparente inteligência, mas, sobretudo, por valer-se de um certo erotismo entorpecedor.