Autor: Edival Lourenço

Seríamos leões para os safáris de Deus?

Seríamos leões para os safáris de Deus?

Há pessoas que têm a comodidade de tomar pé de fatos relevantes, de adquirir certas sabedorias, por meio de revelações. Há revelações para todos os tipos e gostos. Há revelações suaves e melífluas e revelações toscas e rudes. Eu inclusive sou daqueles acometidos por revelações eventuais. Penso que as minhas são do gênero rude pós-apocalíptico. Em estado de sonolência tumultuada foi-me dado conhecer, por exemplo, o lado mais sombrio e desamoroso de Deus em relação às pobres almas, quando desprovidas de seus corpos e saem por aí em busca do amparo divino.

Por que eu deveria fazer alguma coisa para a posteridade? O que a posteridade já fez por mim? Christian Bridgwater / Dreamstime

Por que eu deveria fazer alguma coisa para a posteridade? O que a posteridade já fez por mim?

A natureza está sitiada, colocando a qualidade de vida em risco. Não só a qualidade de vida do ponto de vista mercadológico, que consiste em consumir porções diárias cada vez maiores. Mas a qualidade de vida mesma, com a entrada em cena de novas intempéries, novas doenças pela alteração de micro-organismos, a incapacidade de regeneração de nossos estragos, o declínio da fertilidade do solo, o desconforto pela insalubridade geral do clima, a toxidade nuclear.

Anhanguera: herói ou vilão? Foto: Vinicius Bacarin

Anhanguera: herói ou vilão?

Se formos rever nossa história e nossa cultura, à luz dos valores atuais, principalmente, se embrulhados pelo manto da ignorância, teremos que cancelar tudo o que aconteceu e foi reproduzido simbolicamente, de 1990 para trás. Ao invés de termos uma História das Civilizações, que tem jogado luz sobre o passado, refletido no presente e ainda abrindo flashes para o futuro, teremos que adotar outra ciência, algo parecido com Amnésia das Civilizações.

Ouvidos de ouvir

Ouvidos de ouvir

Há quem ouça a verdade ser dita pelas bocas das cacimbas, pelos ventos nas folhas de relva, pelos voos claudicantes dos pássaros e até pela borra de café em espirais no fundo da caneca. Há quem ouça a verdade ser dita pelos lances de dados, pelos jogos de búzios, pelas pedras das runas e até pela disposição caótica dos detritos no estômago dos animais sacrificados.

E se a vida tivesse fundo musical

E se a vida tivesse fundo musical

Vida boa é de personagem. Antes que os fatos aconteçam, já tem uma musiquinha ao fundo, dando a dica do que vem pela frente. A vida da gente é um tanto mais precária se comparada com a dos personagens de filmes e novelas. Como seria a vida real se cada um de nós fosse portador de um ouvido invulgar para ouvir a música que toca em surdina, enquanto as coisas se preparam para acontecer?