É melhor deixar pra lá… Um pouco de desprezo economiza bastante ódio

É melhor deixar pra lá… Um pouco de desprezo economiza bastante ódio

Ligo o computador com a finalidade de me distrair. Quero navegar pelas redes sociais, olhar as fofocas, curtir as fotos dos amigos e assistir a filmes de gatos e cães fofinhos. Meu dia foi tão intenso (trabalho puxado, preocupações domésticas e doença na família) que mereço não pensar em mais nada.

Foi nesse contexto de descontração momentânea, com as pernas relaxadas no banquinho em frente ao sofá, saboreando uma taça de vinho, que encontrei certo comentário em uma publicação que compartilhei recentemente em uma rede social; somente quando comecei a ler o que estava escrito é que percebi que se tratava de um textão, daqueles em que faltam argumentos e sobram imposições.

A “timeline” do Facebook anda muito chata. Já percebeu que tem especialista pra todo tipo de assunto, de leigos que defendem ferozmente algumas terapias médicas não convencionais (e, muitas vezes, duvidosas aos olhos das comunidades científicas) até pessoas que idolatram políticos envolvidos em esquemas de corrupção?

Você pode me dizer que opiniões e argumentos dependem do ponto de vista de cada um, e hei de concordar contigo. Entretanto, não é todo mundo que respeita a opinião alheia. Desconfio, inclusive, que para algumas pessoas a máxima a ser seguida é a mesma que foi dita, irônica e sabiamente, por um amigo: “meu corpo, minhas regras; seu muro, meu picho”.

Ando com tanta preguiça de gente assim. Decidi que é melhor deixar pra lá quem comenta um texto baseando-se apenas no título. Também não tenho mais necessidade de entrar em debates (ou bate-bocas) virtuais, assim como não preciso ter opinião formada sobre tudo. Me sinto mais produtiva quando tenho dúvidas.

Política. Ciência. Aborto. Pichação. É claro que discutir essas coisas, e tantas outras, é necessário para o nosso crescimento individual e em sociedade. Mas temos que fazer isso o tempo todo? A qualquer grito e em todas as redes de comunicação?

A vida já é complicada demais para estarmos continuamente com a língua afiada e os dedos em riste, prontos para o ataque digital. Ando exausta com a desgraça humana e com toda a miséria, fome e desigualdade que existe, do outro lado do mundo e na esquina da minha casa. Quase todos os dias tenho vontade de xingar políticos quando vou trabalhar e presencio a falta de remédios no serviço público de saúde. Invariavelmente, tenho vontade de responder em tom de escárnio a quem vem dizer bobagens na minha rede social. Mas resolvi deixar pra lá. “Um pouco de desprezo economiza bastante ódio”, e hoje eu quero relaxar…

O título foi inspirado em frase de Jules Renard