Não faltam razões ou motivos para viajar. Viajantes exploram inúmeras partes do mundo. No entanto, as recompensas dessas jornadas nem sempre ficam registradas apenas em fotografias. Elas são oriundas de processos internos complexos e significativos. Conhecer novos lugares e culturas é uma das mais agradáveis experiências que o ser humano pode vivenciar. Significa mergulhar num universo amplo, distinto, surpreendente. Tal processo solta amarras, instiga, produz ensinamentos. Destacam-se aqui sete lições que viagens — com ou sem destino — podem ensinar a andarilhos de diversas estirpes.
Viajar tem um custo. Ficar em casa também. Ao explorar novos lugares e ter contato com culturas diferentes, seja em seu país ou em terra estrangeira, você aprende a enxergar criticamente defeitos e a aprimorar qualidades. Trata-se de uma oportunidade de desenvolver humildade, de reconhecer que não se sabe tudo e que o certo de um lugar pode ser o errado de outro. Tudo isso se torna parte da personalidade de quem viaja e, no decorrer dos anos, produz benefícios inestimáveis.
Experiências são fugazes. Duram pouco. Um dia, uma semana, um mês, um ano. No entanto, experiências oferecem ensinamentos atemporais, pois refletem sentimentos que instigam novas atitudes. Quando você compra algo errado, e gasta com aquilo que não é exatamente o que quer, sente remorso. A durabilidade dos objetos lembra constantemente a decisão equivocada. A fugacidade da experiência, por sua vez, valoriza recompensas de longo prazo. Por isso, viagens não são uma fuga, nem um simples alívio temporário para problemas. Viagens são experiências que estimulam gatilhos mentais específicos, favorecem mudanças incrementais e possibilitam correções graduais de rumo. Viagens criam atalhos para a superação de desafios cotidianos.
Há momentos nos quais é preciso reaprender a comparar. Na vida, não existem fórmulas para avaliar avanços ou retrocessos. A métrica é inexata. Ganhar ou perder é tão relativo quanto a passagem do tempo. Fracasso e vitória dependem de quem julga, onde, como, por quê. Estar aberto ao conhecimento e a novas culturas, disposto a melhorar a si próprio e ao outro é tão importante quanto alcançar benefícios materialmente tangíveis. O sucesso é também uma visão de mundo.
Esperar por uma viagem traz um sentimento de ânimo. Esperar a chegada de um produto causa ansiedade negativa. A expectativa criada pela chegada da viagem aguça a curiosidade e mantém você aberto para o mundo. Ao se manter disposto a conhecer novos lugares e pessoas, você desenvolve competências não-cognitivas, quebra paradigmas, encontra espaço para crescer onde ainda não esteve. Essa expectativa cria uma disposição de espírito que impulsiona novas formas de compreender o mundo e a si próprio.
Numa viagem, há sempre algo acontecendo, mesmo quando aparentemente nada acontece. Trata-se de uma experiência que amplia horizontes, extingue zonas de conforto, estimula sentimentos de superação. Essa atividade tem valor individual, encontra forma própria. É algo para quem quer, quem quiser. Independentemente de acharmos que determinado caminho foi anteriormente percorrido, cada experiência é única. Por isso, vale a pena peregrinar. Ao obedecermos a ditames do acaso, aceitamos desafios. Recompensas vão aparecer gradualmente, e nos tornar pessoas melhores.
Cada ser humano é único. Cada viagem é ímpar. Faça um experimento. Pare numa praça. Observe pessoas. Calmamente. Meticulosamente. São todas diferentes! Todas! Diante de um lugar, acontecimento ou contexto social, cada um reage de acordo com sua subjetividade, modo de pensar e maneira particular de ver o mundo. Não importa quão iniciantes sejamos ao viajar. Tampouco se somos os primeiros a vivenciar determinada situação ou destino. Se algo já foi feito anteriormente, isso não retira o propósito essencial da experiência. Mesmo quando o caminho é o mesmo, a história é sempre outra.
Somos os livros que lemos, as pessoas que conhecemos, os lugares que visitamos, as experiências que vivemos. Sozinhos ou acompanhados, viagens nos ensinam a lidar com a liberdade. Liberdade de conhecer pessoas, de seguir nova direção, de reajustar coordenadas. Tudo isso faz parte de um processo necessário e constante em qualquer viajante. Segundo Rousseau, “liberdade é a obediência às leis que estabelecemos para nós mesmos”. Em viagens, temos a oportunidade de, com o livre arbítrio, tomarmos decisões e impulsionarmos a reflexão. Nesse processo, é possível priorizar o que é realmente importante, explorar sensações e abrir a mente a novas ideias. Em meio a toda essa diversão, aprimoramos a nós mesmos.
Sávio Brayner é autor do livro Estrada Aberta.