Se você está perto dos 40, talvez esse texto seja pra você

Se você está perto dos 40, talvez esse texto seja pra você

Combinei de reencontrar um amigo de infância que há muito tempo não via. Marcamos em um pub às 23 horas, mas o ambiente ainda estava vazio quando chegamos. “A balada fica boa a partir das duas da manhã”, alguém disse. “Duas da madrugada? Nesse horário já estarei dormindo.” — pensei. O lugar lotou de gente no horário previsto: parecia que uma cidade inteira vestindo o mesmo estilo de roupa surgira do nada. Tocava uma música que não tinha letra para cantar, e o som parecia uma batida só: tuts, tuts, tuts (ou era putz, putz, putz?).

Corpos bombados, mulheres endiabradas e peitos masculinos com ginecomastia. Óculos de sol à noite. Latas de cerveja e energético caídas no chão. Gente suada se esbarrando em mim. Ninguém conversava comigo (exceto o meu amigo, que também exprimia uma sensação de engano). Enquanto o som rolava alto e as pessoas dançavam consigo mesmas, lembrei-me da época em que eu curtia festas barulhentas, quando virava a madrugada e ia direto para a faculdade. Também me lembrei dos carnavais em Salvador: assistia aos trios elétricos dos camarotes da moda ou os seguia pelas ruas da cidade.

Apesar de me sentir como um peixe fora d’água, percebi que não se tratava de uma festa estranha com gente esquisita; aquelas pessoas estavam sendo elas mesmas. No fundo, a questão estava em torno de nós: fomos nós que mudamos.

Lembrei-me de quando éramos mais jovens. Tínhamos alguns medos e éramos inseguros. Erramos e sofremos. Mudamos de hábitos, cores e temperos. Mudamos porque nenhum dia é igual ao outro e nenhuma pessoa é igual à outra. Mudamos por necessidade ou por prazer. Saímos de casa, trocamos os sonhos, viramos a mesa, substituímos as roupas. Alteramos trajetos e senhas. Atravessamos a rua, a ponte e o talvez. Pegamos novos rumos e novas possibilidades.

Faz tempo que tenho preferido os jantares com amigos às baladas. Concluí que já não suporto mais o barulho incessante. Não tenho mais paciência para cantada barata. Gosto de gente que gosta de conversar. Também gosto de acordar cedo nos finais de semana. Acostumei-me às cervejas artesanais e aos vinhos, pois em vez de encher a cara, aprendi que bom mesmo é apreciar o momento, sem afetações ou exageros.

Ao mudar de gosto, conceito ou opinião, mudamos ao encontro de nós mesmos. Nos transmutamos para preservar a nossa essência; para renovar, crescer e evoluir. Mesmo com pouca certeza, ora chorando e ora sorrindo, a gente muda porque não quer mais esperar. Porque é preciso recomeçar e continuar vivendo. E sabemos que novos medos, dores e erros surgirão independentemente do caminho que escolhermos. Mas está tudo bem: mudaram as estações e já não somos mais os mesmos.