Detesto desastres aéreos. Detesto essa sua cara de sonso. Detesto fanatismo. Detesto quando interrompem a programação da TV para um boletim urgente. Acima de tudo, detesto a vinheta da Rede Globo. Detesto matar um leão por dia (os animais não têm culpa de nada). Detesto tanto mistério acerca da vida, da morte, da pós-morte, da caixa preta, do boto cor-de-rosa e da maçonaria. Detesto quando Deus se atrasa nos eventos trágicos. Detesto saber que ficarei velho. Detesto que o doutor Urano enfie o fura-bolo no meu rabo. E por falar em quitanda, detesto fazer aniversário. Pelo menos num ponto somos iguais: detesto segundas-feiras, bater ponto todos os dias e bater punheta com a mão esquerda. Também detesto os flanelinhas, os comentários do Arnaldo e aquela dúvida cruel se a falta foi fora da área ou em cima da linha. A regra é clara: eu detesto música sertaneja e gente mais chata do que eu. Detesto o show da virada. Detesto discutir a relação (bom mesmo é virar de lado e dormir). Detesto as homenagens póstumas. Um viva a quem está vivo, esperando a nossa visita, um CD autografado do Wesley Safadão ou um simples telefonema. Detesto tomar café frio em velórios (a cafeína está morta?). Detesto a frieza com que os médicos nos informam que, sim, vamos sobreviver. Detesto esquecer um nome. Detesto participar de um Amigo Oculto entre inimigos declarados. Detesto a Receita Federal, a Black Friday, os pombos, a merda desses pardais eletrônicos e pagar uma multa. Detesto os retiros espirituais. Detesto os encontros de casais realizados de sexta a domingo numa chácara da igreja (swing que é bom, nunca fui convidado para um só que seja). Detesto me lembrar dos romances que eu quase tive. Detesto as excursões religiosas para conhecer Tel Aviv. Detesto os muros (quisera levar um tiro de Uzi ou trepar em pé atrás de uma cerca viva). Detesto meter pela manhã. Detesto que se metam na minha vida. Detesto 98% dos jornalistas. Detesto quando os meteorologistas chamam a chuva de tempo ruim (boa mesmo é a moça do tempo). Detesto o Congresso Nacional. Detesto passeatas pedindo a volta dos militares ao poder e das camisinhas feitas com tripa-de-carneiro pra gente se foder. Detesto os ufanistas. Detesto os filatelistas. Detesto os escoteiros (eles são tão certinhos). Detesto os especialistas em influenciar pessoas, fazer amigos e ter sucesso na vida. Tenho detestado tantas coisas ultimamente e não há nada que possamos fazer a respeito. Como você sempre diz, Deus sabe o que faz.
A regra é clara: não somos nada
