A menina não tem que ser educada para ser princesa, mas para ser o que ela quiser

A menina não tem que ser educada para ser princesa, mas para ser o que ela quiser

Estudos sobre a influência dos contos de fada na formação do caráter infantil dizem que a fantasia dessas histórias abre portas para uma melhor compreensão do mundo pela criança. Através dos conflitos vividos por seus personagens, a criança passa a compreender a diferença entre o bem e o mal e entre o certo e o errado. Aprende que, apesar das injustiças e crueldades que a cercam, ainda vale a pena ter esperança.

Não vejo como algo ruim uma menina brincar de princesa e criar um mundo imaginário perfeito. Assim como não há problema quando os meninos têm certeza de que são o Homem-Aranha ou o Batman. Crianças são inocentes em suas brincadeiras fantasiosas, pois criam em suas cabeças mundos que são particularmente delas.

Entretanto, os contos de fada, que deveriam ficar apenas na fantasia do universo infantil, começaram a fazer parte da realidade de algumas meninas: agora temos “escolas de princesas”. Em ambientes decorados como se fossem castelos, onde meninas se fantasiam com vestidos de festa e usam tiaras, são dadas aulas de boas maneiras. Essas garotas aprendem etiqueta à mesa e dicas de comportamento para serem “princesas de verdade”. As alunas são preparadas para o casamento (ou seja, para serem rainhas do lar).

Veja bem. Não há problema algum em ser uma bela e dedicada dona do lar (aliás, chega desse preconceito bobo de julgar como inferior ou menos valorizada a dona de casa em relação à mulher que trabalha fora e é independente financeiramente). O que as meninas precisam aprender, desde cedo, é que elas são livres para fazer o que quiserem, pois já se foi o tempo em que mulheres não tinham escolha: eram educadas para o casamento e a procriação, como se esse fosse o único futuro reservado a elas. O papel da mulher na sociedade contemporânea não é o mais o mesmo das nossas avós — até nossas mães já sabem disso.

O mundo real mudou. A mulher está estudando para fazer faculdade e pós-graduação. Ela tem emprego. Sustenta financeiramente um lar — que pode ser de uma única pessoa (a própria mulher) ou de uma família inteira. Ela divide responsabilidades com o parceiro, que também lava a louça, cuida das crianças e faz compras de supermercado. A mulher de hoje pode querer não ter filhos. Também pode escolher para sua companhia uma mulher.

É por isso que educar uma menina para que ela seja submissa, à espera do seu príncipe encantado, em pleno século 21, é um grande passo para trás na conquista da liberdade da mulher. Inclusive, até os contos de fadas estão mudando: Fiona é uma ogra que cuida da casa, dos filhos e do marido; e Elsa, de “Frozen”, é uma rainha solteira.

As meninas podem (e devem) brincar em seus mundos de fantasia. Com o tempo, a própria vida se encarregará de lhes mostrar que o mundo real é um conto de bruxas: mulheres ainda são violentadas, crianças passam fome, pessoas se jogam da ponte. Nem sempre a vida segue o rumo que foi planejado.

Porém, mesmo que não seja fácil compreender a maldade do ser humano e o porquê de tanto sofrimento, ainda pode haver, para cada história, um “felizes para sempre”. Esse final não significa que todos os dias serão sempre felizes, mas que, apesar das dificuldades, é possível continuar se esbarrando com a felicidade por toda a vida. E o melhor caminho para que isso aconteça é a pessoa ser livre para fazer as suas próprias escolhas.