As intransponíveis pedras mentais no meio do caminho

As intransponíveis pedras mentais no meio do caminho

Em algumas encruzilhadas do caminho, precisamos decidir qual vereda escolher. Algumas escolhas são simples, enquanto outras envolvem decisões difíceis.

Eventualmente, preferimos escolher o caminho mais tortuoso, cheio de curvas e armadilhas, pontes quebradas, subidas íngremes, imensos despenhadeiros, pousadas abandonadas, rios e oceanos secos, furacões e tempestades, raios que calcinam toda a vegetação ao nosso redor… Mas é o caminho que nosso coração quer seguir! E quem somos nós para contrariar nosso aventureiro coração?

E corremos atrás de sonhos inalcançáveis, amores impossíveis, objetivos impalpáveis ou apenas de desejos secretos que nem ousamos formular em voz alta. E tudo isso para quê? Para provarmos a nós mesmos que somos independentes, que sempre seremos capazes de ultrapassar quaisquer obstáculos para conquistarmos o amor mais impossível, atingirmos o orgasmo mais inacreditável, ou realizarmos o mais louco dos sonhos que jamais fomos capazes de conceber!

Mas nosso coração é traiçoeiro. Cristaliza imagens inatingíveis como se estivessem, bem ali, ao alcance de nossas mãos. Como se bastasse estalarmos os dedos como o mágico Mandrake, para que, de repente, todos os problemas se resolvessem… Para que o amor impossível bata à nossa porta, à meia-noite de uma sexta-feira… Linda e quase nua, coberta apenas com um vestido transparente, com uma garrafa de vinho nas mãos, com um sorriso nos lábios carregado de promessas sempre imaginadas e nunca cumpridas… Mas, na vida real, isso não acontece!

Quando escolhemos um dos caminhos, mesmo que não seja a melhor escolha, mesmo que depois nos arrependamos até o fim da vida por tê-lo tomado, sempre será melhor do que ficarmos indecisos, sem conseguirmos resolver o problema colocado à nossa frente, porque o pior inimigo do cérebro humano é a indecisão. Não há nada pior do que ficar o hemisfério esquerdo do cérebro debatendo com o direito, a sensatez contra a emoção, numa dúvida cruel que nunca desaparece!

E, quando a dúvida não é subjugada, chega aquele que é nosso grande adversário: o medo de errar. Construímos, em nossas mentes, imensas e intransponíveis barreiras que se interpõem no caminho de nossas decisões. Em cada possibilidade, criamos obstáculos virtuais, construídos por nossa mente tortuosa e insegura, os quais tentam nos provar que qualquer decisão provocará uma inevitável derrota.

E, de repente, essas enormes pedras mentais se tornam obstáculos, verdadeiros pesadelos, onde se escondem monstros ou serial killers nos espreitando pelas frestas, aguardando um descuido nosso, por um único instante, para nos atacar com suas facas invisíveis e nos arrancar o coração, ainda batendo, e exibi-lo como um cruel troféu às suas próximas vítimas.

Muito pior do que a inocente pedra no meio do caminho do poeta, que a ele oferece, mais do que um desafio ou uma possibilidade de nela tropeçar, um motivo de fazer versos jocosos a tripudiarem de sua mera presença, bem ali, onde não deveria estar, naquele instante.

De pedras físicas, no meio do caminho, por maiores e mais perigosas que sejam, sempre podemos nos desviar ou jogá-las para longe, mas as pedras mentais, construídas por nossa insegurança, são intransponíveis. Não adianta tentar afastá-las ou jogá-las para longe, porque, como bumerangues, voltam, e frequentam para sempre os nossos pesadelos.

A única maneira de transpormos essas barreiras invisíveis é olharmos para dentro de nós e tomarmos a decisão mais difícil: jogarmos a insegurança para o espaço, encararmos os problemas e nos lançarmos ao encontro do maior desafio de nossa vida nos próximos minutos, enfrentando nossos próprios fantasmas e os vencendo. Isso é muito mais emocionante do que caçar Pokémons virtuais, e esse desafio se converte em pontos ganhos no jogo da vida, em que, em cada batalha, carregamos a experiência e a memória dos passos, certos ou errados, que tomamos para enfrentar cada desafio que transpusemos. E, nessas batalhas, somos invencíveis, porque, mesmo que tomemos decisões erradas, mesmo que seja uma única vez, elas nos mostrarão o caminho para vencermos a próxima batalha, que não tardará a nos desafiar.

E, assim, vamos a cada desafio, a cada novo amor, a cada escolha, vitória, derrota, a cada olhar inesquecível, compondo a trilha sonora de nossas vidas, com suas letras, melodias, histórias, poemas e canções, que durarão por todo o tempo em que nossa memória permanecer na lembrança de qualquer uma das pessoas que um dia amamos.