A mania de algumas pessoas acharem que o mundo gira ao redor de seus umbigos

A mania de algumas pessoas acharem que o mundo gira ao redor de seus umbigos

Todo mundo conhece uma pessoa assim: na roda de conversas, ela domina o assunto, conta mil histórias sobre si, é completamente desinteressada do que os outros têm a dizer e cria situações para arrancar elogios a fórceps. Se você quiser falar alguma coisa, querido, aproveite enquanto ela enche o pulmão de ar, porque é tudo o que lhe resta. Conversar com egocêntrico parece uma corrida de 100 metros rasos: termina-se cansado, como se a mais simples troca de informações fosse uma competição de gogó por quem fala mais, mais alto e sobre a própria vida.

Nos relacionamentos afetivos, ele diminui o parceiro com alguma constância. Já com as pretensas amizades, ai daquelas que se destacarem um pouco mais… O estrela Dalva já dá um jeito de conduzir os holofotes para si novamente. Suas histórias são estridentes e excedentes, no drama ou na graça. E se alguém lhe rouba a luz por um momento, é só esperar que a tromba se forma.

Essa gente que enxerga uma galáxia em volta do umbigo tem infestado o mundo real e virtual. Nunca se desejaram tantos elogios, seguidores, atenção e aprovação. Nunca tantos verbos se flexionaram em primeira pessoa. Egos inflados, no entanto são tão frágeis como um balão de gás: basta que alguém um pouco mais intolerante venha com uma agulha para estourá-lo. Mas o umbigocêntrico sempre dá um jeito de espanar, seja pela negação seja pelo confronto. Trocando em miúdos, ninguém está certo a não ser o topetudo. Um belo pé no saco.

Se sua veia de psicólogo está aberta, ligue o modo paciência e procure entender que quem troca um rim por um caminhão de elogios certamente tem parafuso a menos na formação da personalidade, já que o aparente excesso de amor próprio costuma denunciar exatamente a falta dele. Encarar a realidade, enfrentar as frustrações e aceitar os próprios defeitos exigem maturidade e consciência do eu. O adulto egocêntrico fica congelado naquela fase da infância em que o melhor de todos os pronomes é o “meu”. Ou seja, é uma criançona carente, que não aceita “nãos” nem outro brilho que não seja o seu.

O complicado é que bancar o monge o tempo todo para suportar a falta de noção dos outros é uma demanda bem exigente. Afora as conjecturas psicológicas e caso não se queira salvar a humanidade, a verdade é que haja paciência. Se você recebeu um aumento, ela recebeu um maior; se você nadou duas piscinas, ela nadou mil; se você está gripado, ela está com tuberculose. As disputas sem sentido vão das coisas mais ridículas às mais graves.

Relacionamentos, sejam quais forem, são como uma ponte de mão dupla, é preciso o mínimo de empatia e disposição para fazer dar certo. E a questão é mais gramatical do que de autoajuda: diálogo — a própria palavra já diz tudo — pressupõe duas vozes, dois sentimentos, duas pessoas (sem que uma sambe na cabeça da outra). Trocas e interações são necessidades básicas para se construírem relações humanas, assim como entender que — a despeito dos ilógicos despeitos — o espaço do outro existe e ponto final. Difícil é perceber que quem ama o próprio umbigo está se lixando para tudo isso e provavelmente sequer leu este texto até o final. Autocrítica é dádiva rara.

Não espere que eu vá concluir alguma coisa, também não sei lidar com gente assim. Mas saiba que sua falta de saco com a frota de narcisos encontra companhia por aqui.