Legalize o amor

Quase mais ninguém escreve cartas. Quase mais ninguém sonha em voar. Quase mais ninguém enlouquece de amor. Quase mais ninguém dá a vida por uma causa. Quase mais ninguém morre de sífilis. Quase mais ninguém atira contra Chefes de Estado. Quase mais ninguém planeja fugir de casa. Quase mais ninguém tem cinco filhos. Quase mais ninguém faz a menor ideia de quem foi Alberto Caeiro. Quase mais ninguém visita um sebo. Quase mais ninguém quer se casar com uma virgem. Quase mais ninguém quer ir para o céu, quem dirá, para a Disney. Quase mais ninguém toca Raul. Quase mais ninguém reside em hospícios até ser totalmente esquecido pelos entes queridos. Quase mais ninguém deixa crescer as costeletas. Quase mais ninguém quer viver a vida intensamente para morrer aos 27. Quase mais ninguém acredita que se transforma o mundo com música. Quase mais ninguém leva o filho mais velho ao prostíbulo. Quase mais ninguém coleciona selos. Quase mais ninguém faz sexo num fusca. Quase mais ninguém se joga de uma ponte. Quase mais ninguém lava o próprio carro no sábado à tarde. Quase mais ninguém guarda moedas dentro de um porquinho. Quase mais ninguém decora tabuadas. Quase mais ninguém dorme de pijamas. Quase mais ninguém dá banho no próprio cão. Quase mais ninguém conta segredos picantes para um padre. Quase mais ninguém pede a benção aos pais. Quase mais ninguém abre cadernetas de poupança. Quase mais ninguém engraxa os próprios sapatos. Quase mais ninguém usa relógios de pulso. Quase mais ninguém marca uma briga para depois da última aula. Quase mais ninguém sabe de cor a Tabela Periódica. Quase mais ninguém faz tabelinha (nem no futebol, nem na cama). Quase mais ninguém pratica coito interrompido. Quase mais ninguém carrega uma foto 3 x 4 na carteira. Quase mais ninguém fuma nos filmes de cinema. Quase mais ninguém sofre de amor ou caxumba. Quase mais ninguém picha um muro com os dizeres: Fulana, eu te amo. Quase mais ninguém move multidões em prol da paz mundial. Quase mais ninguém me interessa.