Não importa pra onde você vai. O que realmente importa é o caminho

Não importa pra onde você vai. O que realmente importa é o caminho

Sempre gostei de caminhar. Fiz minhas primeiras caminhadas quando era criança, acompanhando a minha avó. Ela dava voltas em quarteirões nos arredores da casa dela, andando lentamente por causa do corpanzil e da artrose. E eu, firme ao seu lado, ia descobrindo a arte de observar tudo ao meu redor.

Já caminhei por tantos lugares que seria impossível enumerá-los agora. Mas houve um dia ­­­— um desses dias monótonos e inúteis em que você não espera nada de novo da vida — que certa caminhada me marcou profunda e definitivamente.

Eu andava como os que seguem sem rumo. Mas, na verdade, estava voltando pra minha casa. É que eu sofria; não queria ficar onde estava, mas também não sabia para onde deveria ir. Nesse dia, por acaso, passei em frente a um cinema e, sem querer, vi o filme que estava em cartaz. Achei o nome dele curioso, então entrei para assistir a sessão que estava começando.

Baseado no livro “O Caminho Do Guerreiro Pacífico”, de Dan Millman, o longa-metragem “Poder Além Da Vida” trouxe esperança, luz e conforto aos meus dias de caminhar no escuro. Porque eu descobri que não importava para onde eu deveria ir. Antes de tudo, eu precisava encontrar a mim mesma. Precisava renascer para enxergar algumas coisas de forma diferente. Mas, para isso, seria necessário fazer uma peregrinação pela trilha mais difícil de todas: a minha alma.

Caminhar ajuda a colocar ideias no lugar. Se você não deixar alguma coisa para trás, não conseguirá mudar de direção. Se formiguinhas levam folhas bem maiores do que elas mesmas, você também pode carregar todo peso que leva na mochila.

Quando caminhamos em nossa mente, transpiramos as nossas dores. Os pés que tocam o chão ganham altitude e chegamos até às nuvens; aquelas que ora se parecem com formas engraçadas feitas de algodão branquinho, mas ora nos lembram de que a tempestade de medos está chegando.

É que tem dúvidas que chegam como um dilúvio. Entretanto, lembre-se: não existe tempo ruim para quem caminha com vontade. A gente segue sob a chuva e deixa a água lavar o pensamento encardido. Abre os braços para o vento frio e sente a liberdade. O esforço sai da gente e se transforma em superação; também, em inspiração: você descobre que pode ir adiante e começa a planejar o seu caminho de Santiago de Compostela.

Andando, você descobre trilhas escondidas na alma. Traça novos percursos. Pisa na lama. Enfrenta subidas intermináveis. Pensa em desistir. Segue em frente. Descansa sob as sombras frescas de copas de árvores mais antigas que os seus avós.

A paineira lhe sorri com suas flores róseas. O sol dá bom dia à sua saudade. A terra que suja os pés é a mesma que lava a alma. O cansaço do corpo descansa a inquietude do espírito, e a dificuldade do percurso alivia a dor de ser peregrino.

A cada passo firme, você já não se preocupa aonde chegará. Ao caminhar, aprende a ficar mais perto de si, e percorre labirintos obscuros para entender melhor o que acontece lá fora. Afinal, “não existe início ou chegada, só o caminho” (Dan Millman).