Algumas pessoas nunca sentem tesão. Ahhh! Que vida medíocre elas devem levar

Algumas pessoas nunca sentem tesão. Ahhh! Que vida medíocre elas devem levar

Sem tesão, não dá! Se é pra fazer, façamos intensos, inteiros, ou é melhor deixar pra lá. Sentir tesão é arrepio, que não vem do frio, nem do medo, mas da capacidade de desconfiar que vida pode ser algo delicioso. Mas não. A gente às vezes prefere sentar confortável no sofá da rotina, esticando a mão a pegar na prateleira o controle do óbvio, a certeza, o planejamento da mesmice. Viver sem tesão é mesmicídio! É etiqueta pra tudo: pra vestir, pra despir, pra falar ou calar. Não seja! Não toque! Não coma! Não me coma! Não isso! Não aquilo! É perigoso viver. Sabe, isso tudo nos arranca o tesão, emborracha o sorriso da gente. Acabamos estacionados em lamentações, martírios, cruzes e cruz credo! Tem censura que não faz sentido, plastifica a felicidade. Tem censura que é cenário — é viver como personagem de um filme de horror — é subsistir sem nos darmos conta o quão cegos, cretinos e infelizes estamos. Por que razão, engaiolamos nossos desejos, matando de fome todos os dias nossos sonhos?

Quando a emergência de viver bate à porta, fica difícil disfarçar o que desejamos. Uma hora cansa fingir não saber que estamos de saco cheio do ofício combalido. Fatigados por dormir com um amor que não nos arranca do chão. Abatidos e desgostosos com nossas escolhas convenientes. Enfastia essa brincadeira de esconder o desejo ou de colocá-lo na mão de alguém. Estar onde está, sabendo estar malcontente e sem tesura, é o maior desrespeito que cometemos contra nós mesmos. Alguma coisa está ao avesso, e nós crentes que estamos direitos.

Viver dá trabalho, não tem moleza pra ninguém — a não ser para os medíocres, estes que não se sentem coagidos a questionar-se. Viver é um sobressalto, pra você, pra mim. É coração em cima, em baixo. É antítese entre estar e não estar. Entre dor e alívio. Entre sucesso e fracasso. Entre dias cinzas e azuis. É roda gigante! Mas será que dá pra colocar tesão, pelo menos no que depende de nós? Naquilo que sai de nós? Há um momento em que a urgência de viver é a melhor companhia. E o desejo contido sai faminto querendo se realizar. Põe-se o sol, nasce o sol. Tudo novinho, esperando pra ser reescrito! De repente, surpresa. Outro caminho. Alguns atalhos. Aconteceu de novo a oportunidade. E a gente se vê mais gente, mais leve, solta, doida. Cheia de tesão pra dar à vida!

Perdoe os maus modos das palavras, mas eu quero mesmo é sentir tesão, muito tesão! Amor próprio é tesão. Trabalhar com o que se ama é tesão. Não temer o amor que te convoca, é tesão. Dar-se, doar-se, colocar coração nas escolhas vitais, é bem provável que seja o maior tesão de todos. Serão felizes os bem sucedidos de alma, nem sempre o sucesso usa terno e gravata. É que a felicidade não tem disfarce e tampouco costuma acumular tudo pra depois. Viver é hoje, a vida é agora!

Talvez seja esse o momento de se jogar nos sonhos, com a libido de uma caçadora! Atrever-se a estar mais diante dos instintos, farejar qualquer coisa que nos aproxime de nós mesmos. Permitir-se perder e se encontrar. É tempo de pedir licença às más maneiras, convidar o bom senso pra dançar, os bons modos para um chope qualquer. É o instante de livrar-se das crenças e dos desejos dos outros, quando são correntes a nos enfadar. É tempo de despedir dessa mania de agradar a todos, enquanto se desagrada. É época de consentir estar em paz com os desejos, e ser resiliente às consequências. É que fica tão mais gostoso caminhar pela vida quando andamos de mãos dadas com nossos sonhos.

Deu. Não preciso de cálculos, hipóteses, hipotenusas e medusas sobre meu tesão. Quero mesmo é ser lambida pela ousadia, pelo em frente, pela valentia de topar essa insolente e debochada ideia de ser feliz.