Venham comigo ao cinema, antes que o diabo saiba que vocês estão mortos

Venham comigo ao cinema, antes que o diabo saiba que vocês estão mortos

Suponho que todos vocês, leitores, já tiveram um dia de cão. Vou lhes contar como foi o meu.

Era uma vez no oeste, ainda no tempo das diligências, levaram-me até o poderoso chefão, que se encontrava amoitado com umas gangues de Nova York no Grande Hotel Budapeste, situado perto de uma rua chamada Pecado, um local muito inóspito onde os fracos não têm vez.

“— Quem é você”, perguntou o Todo-Poderoso, embora já soubesse a minha graça.

“— Eu sou a lenda”, eu disse em tom de deboche, colocando, evidentemente, o meu cu na reta.

“— Onde está Rebecca, A Mulher Inesquecível?”, ele quis saber.

“— Não sei de nada, eu estava apenas cantando na chuva quando os seus cães de aluguel capturaram-me”, respondi, secamente.

“— Vocês foram vistos juntos chupando laranja mecânica em Chinatown e curtindo a vida adoidado. É melhor ir contando tudo, antes que o diabo saiba que você está morto. Eu sei o que vocês fizeram no verão passado. O Grande Lebowski disse-nos tudo. Você está, sim, na lista de Schindler, amigão”, emendou.

“— Em nome do pai, eu juro que sou apenas um taxi driver em Sin City, A Cidade do Pecado”, eu forcei a barra, tentando ganhar tempo.

“— Você é Forrest Gump, O Contador de Histórias. Não banque o gênio indomável com a gente, ou vou lhe mostrar que o meu ódio será sua herança. Sabemos tudo a seu respeito, que você esteve conduzindo Miss Daisy, além de Thelma e Louise. Os bons companheiros aqui estão doidos para socar a sua cara no clube da luta. É melhor desembuchar, meu chapa. Pra nós, quanto mais quente melhor”, ameaçou.

Aquilo parecia uma intriga internacional contra a minha pessoa. Eu estava encurralado. Eu fora transformado num verdadeiro farrapo humano. A impressão que eu tinha era que nem todos os homens do presidente poderiam me tirar daquele inferno na torre. Era um tempo de violência. Já tinham jogado o Cidadão Kane e o Grande Gatsby pela janela indiscreta. Um corpo que cai do quarto andar mete medo em qualquer um. Éramos naquele apartamento bem mais do que três homens em conflito. Para ser exato: doze homens e uma sentença. Eu me sentia um estranho no ninho metido naquele verdadeiro sindicato de ladrões.

“— Sabe por que somos conhecidos como os Bastardos Inglórios aqui em Brokeback Mountain? Porque fizemos um pacto de sangue em prol da violência. Pra nós, ninguém é duro de matar. Suponho que você tenha lido nos jornais a respeito do massacre da serra elétrica. Foi a gente que fez aquilo. Começamos por baixo, como simplórios ladrões de bicicleta. Depois, então, passamos por um treinamento intensivo com Os Sete Samurais de Hiroshima Meu Amor até nos tornarmos Os Imperdoáveis. Matar ou morrer, pra nós tanto faz. A gente quer é se divertir. Vamos deixar um verdadeiro rastro de ódio daqui até o Rio Vermelho”.

Aqueles caras não estavam para brincadeira. Eu tremia nas bases, a um passo da eternidade. Eles tinha a marca da maldade estampada no rosto. Só um golpe de mestre me tiraria dali. Formara-se uma intrincada rede de intrigas. De certa forma, eu atingira a honra do poderoso Prizzi — que era mais conhecido como O Homem que Matou o Facínora — quando, num momento de fraqueza, cedi ao jogo de sedução da sua menina de ouro, a indomável sonhadora, durante um encontro que tivemos na Sociedade dos Poetas Mortos.

Ela era uma verdadeira gata em teto de zinco quente, uma linda mulher que representava como ninguém a beleza americana. Fomos traídos pelo desejo, éramos dois perdidos na noite. Pensei que fosse apenas mais uma de minhas loucuras de verão, mas, reconheço: foi uma conduta de risco da minha parte. Eu tivera, com toda certeza, ligações perigosas com a bela da tarde. Vocês sabem: Amar é sofrer. Ah, se meu apartamento falasse…

Contudo, naquele instante, subjugado numa estalagem maldita, eu nutria um sonho de liberdade. “A vida é bela, mesmo repleta de encontros e desencontros”, pensei, atado à cadeira, à espera de um milagre.

“— Quem quer ser um milionário?” , blefei com os miseráveis, num derradeiro ato de bravura indômita. Eu sempre tivera o coração valente.

Ao perceberem a minha trapaça, os renegados caíram na gargalhada. Aquilo foi o veredito. Percebi que chegara, finalmente, a hora mais escura da vida. Eis a anatomia de um crime: Capitão Phillips, o mais malvado de todos, meteu uma bala entre os meus olhos. Prevalecera, uma vez mais nesse mundo cão, a inesperada virtude da ignorância. Após o estampido da Winchester ’73, só ouvi os gritos do silêncio.

Eis como toda a história sucedeu, caros leitores. Assim caminha a humanidade.

 

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