Saiba escutar, mas com a certeza de que está vivendo as suas próprias escolhas

Vivemos em uma sociedade cada vez mais consumista, competitiva e individualista, e que não tem mais tempo para os pequenos prazeres da vida. Trabalhamos muito e não reparamos no pôr do sol. Somos rodeados por pessoas e não nos enxergamos. Provavelmente estamos nos especializando em nos comunicar melhor através das telas ao invés dos nossos olhos nos olhos.

Observe. Tem gente que tem praticamente tudo e, mesmo assim, ainda se sente infeliz. Pode ser que essas pessoas se preocupam mais com as expectativas dos outros do que com seus próprios desejos. Ou esperam somente o que vem do outro para se sentirem inteiras. Ou, então, têm dificuldade de lutar por suas próprias escolhas.

Uma vez conheci uma senhora bem humilde que declamou um poema para mim. Minha alma voou com aquelas palavras inesperadas de Vicente de Carvalho: “Só a leve esperança, em toda a vida. Disfarça a pena de viver, mais nada”. Ao nos despedirmos daquele encontro, agradeci com emoção aquele ato que alegrou tanto o meu dia. Em seus olhos cansados, percebi que ela usava a poesia para entender a vida.

O sentido da vida deve ser esse mesmo, a superação de todos os obstáculos e todos os medos. Se perdermos nossa coragem, deixaremos de sonhar. Se desistirmos de nossos sonhos, seremos pequenos desiludidos perdidos pelo mundo. Ao construirmos a nossa felicidade em nós mesmos, deixaremos de procurá-la onde ela não está.

Não é à toa que cada vez mais pessoas se sentem isoladas ou esgotadas. Apressadas, não prestam devida atenção nas coisas ao seu redor, e, distraídas, não notam como pequenas atitudes movem as suas vidas. Dizer “por favor”, “bom dia” e “obrigado” é tão poderoso que pode fazer toda diferença no cotidiano tanto de quem as fala como de quem as escuta.

Quando aprendemos a olhar para nós mesmos, olhamos os outros também. E vice-versa. É um ciclo vicioso do bem. Nos sentimos gratos por um afeto e praticamos uma gentileza. Ao sermos gentis, recebemos alegria. Encontramos amor em nossa família e amigos, e aprendemos a lidar com qualquer sofrimento. Respeitamos nossas diferenças. E aprendemos que escutar a opinião dos outros é ter bom senso, mas ainda somos livres para vivermos de acordo com nossas próprias escolhas.

Juntos, também desenhamos a esperança todas as vezes que precisarmos dela. A cada página ruim que viramos de nossas histórias, criamos novas oportunidades. Em cada saudade boa que guardamos, encontramos força para seguirmos adiante.

Enfim, contemplamos as coisas simples da vida. O cheiro das flores, a música da orquestra e as cores do alvorecer nos tocam porque a beleza do mundo nos traz equilíbrio. Mais leves, nos percebemos com os olhos do coração e sentimos gratidão por estarmos aqui. Porque encontramos inspiração não no que nos sobra, mas na arte de ser feliz com o que nos resta.