‘Não tenho medo da solidão. Meu temor é estar acompanhada e sozinha’

‘Não tenho medo da solidão. Meu temor é estar acompanhada e sozinha’

Há alguns momentos na vida em que é preciso ficar só. Para entender despedidas, colocar a cabeça no lugar, apreciar o pôr do sol, ou aceitar o que não tem explicação. Porque pessoas vêm e vão. Às vezes, elas ficam, outras vezes, não. Elas simplesmente partem como um pássaro que some no meio da noite escura. A porta do seu coração se fecha para escutar o doloroso voo do adeus.

Então, você aprende a ser seu. Reconhece seus defeitos e procura melhorá-los. Encontra seus dons e passa a explorá-los. Dança com a tua solidão. Ama e odeia estar sozinho. Come na rua para não ter que cozinhar tão pouco. Degusta sua comida feita para um. Lava as poucas louças e os muitos medos.

E, assim, vai tocando os dias e as dúvidas. Dobra lembranças para guardá-las nas prateleiras da saudade. Amassa desilusões para jogá-las no baú do passado. Olha seus olhos de ser só e entende o que já foi. Sorri o sorriso da solitude e aprende a esperar. Bebe o vinho da espera e saboreia a vida enquanto escolhe.

Escolher não é sinônimo de frescura ou exigência desmedida. É maturidade e consciência. É aquele momento na vida em que a qualidade passa prevalecer à quantidade, e quando menos é mais no sonho de ser a mudança que se quer ver no mundo. Você deseja ter alguém, sim, mas alguém que valha a pena estar ao seu lado nesse processo doloroso e interminável de autoconhecimento e amadurecimento. Por isso, passou a escolher.

Por exemplo, você pode estar rodeado de centenas de amigos superficiais ou ter poucos amigos sinceros, mas esses últimos são os que te dão a mão nos momentos difíceis e te compreendem em silêncio, acolhendo a tua dor. Pode ser uma pessoa apegada a posses, ou alguém que fará da vida uma mochila mais leve para se carregar pelo mundo afora, sem se preocupar demais com o tamanho de uma casa material, e, sim, a espiritual.

.Pode querer que alguém venha para completá-lo, para preencher o seu espaço vazio e dar sentido a sua vida. Mas também pode seguir outro caminho, onde primeiro procura-se o próprio amor, para então receber o amor do outro.

Dizem que quem escolhe muito acaba sozinho. Mas, depois que acontecer o encontro de duas pessoas que não esperam do outro mais do que a cumplicidade e a confiança para dividir uma vida a dois, amar será uma troca, nem será preciso pedir algo que virá espontaneamente. É como rimar amor com flor.

Não é preciso ser poeta para saber que amar dá um pavor danado, principalmente depois de muito tempo só. Você se acostuma a uma solidão secreta que, quando aparece alguém que pode acender a sua luz, fica apavorado. E por já ter amado antes, tem medo de sofrer outro rompimento, e, antes de começar, já trava a possibilidade de amar.

Mas, hoje, a sua escolha é não desistir. É continuar procurando a rima do novo amor, esperando o tempo que for. Enquanto isso, você continua aprendendo a ser só. Vai ao cinema sozinho, lê a felicidade em um livro e colore seus vazios com a sua esperança. Ri e chora. Vive a solidão com dor e paixão. Encontra paz de espírito e escreve a vida em folhas novas. Sim, a poesia te espera o tempo que for preciso.

Viva agora e depois entenda o inesperado. Escolha amar e amará o esperado!

Porque um coração sem amor é um poema inacabado. É a melodia que espera para ser cantada pelo pássaro que ainda não chegou com o vento da manhã.

 

*Título inspirado em uma crônica de Ita Portugal.