Tem mãe que não presta nem quando vai  parir

Tem mãe que não presta nem quando vai parir

Tem mãe que não presta para ser mulher. Muito menos serve para existir sobre a face desta cambaleante terra. Mas,  você sabe, existem as tais das convenções civilizatórias que teimam, num ato reflexo, em colocar na redoma, incensar como deusa, aquela nobre e pretensamente santa criatura que nos deu à luz.

Ok,  é fato que muitos de nós logo advertiremos termos sido aquinhoados pelas melhores mães do mundo. Importa então esclarecer — ninguém está aqui imbuído do papel de discutir tais afirmações, nem tampouco retrucar tal veemência nesta assertividade.

Ocorre que ser mãe não canoniza nenhuma pessoa mesmo, por disparate que seja, ainda em vida. A maternidade não exime a criatura gestora de cometer crimes ou torturas de todo o tipo, decorrentes de compulsividade maníaca. Sevícias frente às quais até a própria imaginação emudece.

Arquivos de criminologia se acumulam, abarrotados de barbáries perpetradas por estas selvagens fêmeas contra seus humanos rebentos.

Mulher que transforma filho em  cinzeiro — apagando nele todos os cigarros que fuma. A que envenena o filho aos poucos — visando sorver do prazer estrábico e azinhavrado de assistir lentamente o irrecorrível definhar do menino, tão quieto e indefeso quanto uma vela que se apaga na noite irrigada de  anemias.

Mãe que oferece filho ou filha (tanto faz) a pedófilos contumazes, em troca de uma apetitosa quantia em dinheiro, estipulada mediante meticulosas negociações na internet.

As que dão álcool para o pobre infortúnio em forma de gente beber e depois ateiam fogo à criança — e perpetram esta ignomínia — crueldade ainda mais exemplar se ocorrer no período de festas juninas.

Pior ainda são as mães que morrem de inveja do talento e do caráter dos seus filhos. Calcule o perigo que a criança corre ao se deparar com os olhos sanguinolentos da mãe, louca para infernizar desde sempre a vida da criaturinha.  Bem como pronta a estilhaçar qualquer certeza que contribua para a consolidação — ainda que débil — de uma verde autoestima.

A filha possui QI altíssimo? Nasceu artista, prendada por todos os lados, para o desenho, a música e a literatura. Charmosa sem pedir licença. Bela, espirituosa, carismática, humorista. Não. Torna-se imprescindível para esta mãe esquartejar cada pendor da menina, esmagar sua autoconfiança, assim como se trituram cabeças de alho para adicionar ao feijão do apressado e silencioso almoço.

Mães do mal. Das madrugadas sem lua, dos eternos desertos sem chuvas, nem alentos, dos terrenos secos e estéreis. Mães das sombras. Do lixo. Do perjúrio, da vingança, de sucessivos, abusivos e indiferentes crimes cotidianos.

Mas como assim? Este não é um tema para uma crônica, você talvez se questione. Suponha quantas sórdidas mulheres estarão neste exato instante lendo este texto, e intimadas, à revelia, a enfiarem de vez  a maldita  carapuça em suas cabeças, como se diz popularmente.

Mesmo aquelas que ignoram o que é estalar amorosamente um beijo florido na rósea bochecha da criança. Parideiras anônimas vomitando sobre o planeta pencas de bebês. Bebezinhos criados somente com a finalidade de  crescerem imersos em  intrigas, altercações, disputas intermináveis e quase-assassinatos à espreita de se consumarem a qualquer momento,  ano após ano de suas frágeis vidas.

Mães que prostituem filhas no início da adolescência, para manter intocado seu padrão de compras no shopping. Que jogam os bebes em riachos, caçambas, portas de cemitério, portarias de prédios luxuosos.

Mulheres que ensinam filhos a traficar, mentir, roubar e matar, sempre por vias tortas e poluídas, com tapas e bofetadas, porque afeto é língua estrangeira nestes pardieiros urbanos, arremedos de lares esburacados.

Este é um assunto-tabu. Porque há maldades de distintos gêneros, números e graus. As inexplícitas, as decantadas como licores funestos, as ruindades dissimuladas em sorrisos plastificados e contumazes.

Intenções sórdidas que se sentam elegantemente em mesas cobertas por toalhas de linho branco, para sorver, calmamente, chá inglês servido em bules de prata, numa tradicional confeitaria, ao cair da tarde.

Mães de xepa. De presídio. Gestantes de esgotos, que na hora do parto expulsam do ventre uma nova vida como submetidas a enorme engasgo com caroços de abacate.

Humilhar, espancar, escandalizar filhos aos gritos no meio das ruas.  Tratar cães e gatos como se fossem oriundos da realeza maternal, expulsando os filhos do almejado abraço terno e acolchoado.

Eis que surge uma pergunta necessária, depois deste escancaramento amplo e visceral, ao qual procedemos, seguindo perfis maternos de homicidas declaradas ou em potencial dissecadas em sua incomodativa intimidade.

E os pais onde ficam nesta história já desenrolada em frangalhos? Serão por acaso — e bem aventurança do destino — indivíduos ilibados no seio familiar? Santos provedores de carinho e segurança doméstica? Claro que não. Também, lamentamos informar, há muito a se relatar sobre eles.

Infelizmente a perversidade é algo que se viraliza automaticamente na alma humana. Noite e dia. Debaixo de chuva ou choro. Depois das festas ou de abandonos.  Sem freios e nem receios. Infelizmente.