Woody Allen: filmografia comentada

Woody Allen: filmografia comentada

Uma análise de toda a obra do cineasta americano, desde o primeiro longa “O Que Há, Tigresa?”, de 1966, até “Café Society”, de 2016

Minha cinefilia precoce deve muito aos filmes de Woody Allen. Ficava de madrugada acordado, esperando a Globo reprisar “A Última Noite de Boris Gruschenko” ou “O Dorminhoco”. Sou velho o suficiente para lembrar que “A Rosa Púrpura do Cairo” ficou mais de um ano em cartaz no Rio, entre 1985 e 1986. Ou que “Tudo o que Você Queria Saber Sobre Sexo”, um filme de 1972, só foi estrear na TV brasileira no fim dos anos 1980. Lembro-me de ter encarado uma sessão à meia-noite de “Zelig”, sem legendas, nalgum momento do comecinho da década de 1990. Depois de ter enriquecido minha cultura woodyística com livros (dele ou sobre ele), peças de teatro, entrevistas e documentários, percebi que, na verdade, a obra de Allen não apenas moldou meu gosto cinematográfico. Devo a ele também muito de meu senso de humor — e mesmo a maneira como enxergo a vida foi influenciada por seus pensamentos. Eu acompanhava até a tirinha em quadrinhos “estrelada” por ele, que o “Globo” publicava nos anos 1980!

Poucos cineastas encarnaram a teoria do “auteur” cinematográfico quanto Allen. Especialmente depois que o ator-roteirista-diretor percebeu que poderia usar o cinema para algo além de contar piadas (muito) engraçadas. Alguns o criticam por “fazer sempre o mesmo filme”. Eu vejo aí coerência autoral. Woody tem um repertório de temas que o interessam como artista e como ser humano, e usa seus filmes para trabalhar e retrabalhar esses temas. O estudo de sua obra por completo revela a constância dessas obsessões e a evolução da abordagem que Allen vem dando a elas.

A seguinte filmografia comentada restringe-se aos longas dirigidos por Allen. Não inclui, por exemplo, o curta-metragem que ele assina em “Contos de Nova York”. Nem os filmes nos quais ele participa apenas como ator e/ou roteirista (“O que Há, Gatinha?”, “Sonhos de um Sedutor”, “Testa de Ferro por Acaso”…). Também restringi os textos a comentários sobre técnica, estilo e temática — não há sinopse nem ficha técnica de cada filme, ou grandes elaborações sobre a trama. Parto do princípio que os leitores estão ao menos familiarizados com os longas. Atenção para os eventuais spoilers. Se você não assistiu ao filme comentado, recomendo pular a leitura para o longa seguinte.

Marco Antonio Barbosa é jornalista, edita o Telhado de Vidro e o projeto musical Borealis. Twitter: @BartBarbosa