Uma carta de amor às madrinhas Madrinhas

Uma carta de amor às madrinhas

“Você aceita batizar a nossa filha?”.

Quando minha cunhada e meu irmão me convidaram para ser a madrinha da Laís, comecei a sorrir, a pular e a chorar. Eles ficaram parados à minha frente, com os olhos bem abertos, aguardando uma resposta. Mas eu não conseguia pronunciar uma só palavra, e continuava pulando. Segurei o pé gordinho da minha sobrinha, que estava no colo da mãe, e o beijei. Olhei para aquela bebê risonha e senti o meu coração bater diferente: era um amor desconhecido que nascia dentro dele.

Conheço várias pessoas que perderam a ligação afetiva com seus padrinhos. Por sorte, tenho um padrinho e duas madrinhas que são presentes até hoje na minha vida. Tanto o casal que me batizou como a tia que me crismou, cada qual à sua maneira, ainda “cuidam” de mim com o carinho e o zelo que demonstram todas as vezes que nos encontramos — seja no mundo virtual ou presencial.

Quando eu tinha dois anos e meus pais precisavam sair, eles me deixavam na casa dos meus tios. Eu dormia na cama deles, entre os dois. Meu tio ficava imóvel durante a noite porque tinha medo de se virar sobre mim e me sufocar. Naquela época, minha tia estava grávida pela primeira vez; ela conta que, depois que meu primo nasceu e eu perdi o lugar na cama dos “dindos”, fiquei, por algum tempo, emburrada.

Ao me tornar madrinha, olhei para as minhas e vi como elas são importantes na minha vida — mesmo quando discordamos sobre política e time de futebol. Delas recebo constantemente conselhos, bilhetinhos e abraços. Até hoje tenho (e releio) o primeiro diário, que ganhei no meu aniversário de sete anos, e ainda uso o pingente da Santíssima Trindade que ganhei de outra tia quando ela me crismou. Sei que as duas me amam quando estou feliz ou triste e que sempre torceram por mim quando minhas coisas não iam bem.

É que madrinha se envolve na vida do afilhado, o que não se resume a presentes nos aniversários e visitas nas férias. Madrinhas dão banho no bebê, trocam a sua fralda e estão junto dele nos seus primeiros passos. Também ensinam o certo e o errado, dizem “não” quando for preciso e auxiliam o afilhado nos seus temores e dúvidas. Quando fiquei doente, minha madrinha me enviava bilhetes por meio de minha mãe: “tudo vai ficar bem, amo você”.

Segurando os dedos pequeninos da mão da minha sobrinha, comecei a entender esse amor diferente, que chega numa avalanche de euforia e deveres, nasce sem saber por que e cresce de um jeito desmedido. Descobri que nessa nova forma de amar, incondicionalmente, a gente sente medo. Mas não é um medo que nos apavora e nos fazer perder a fé, pelo contrário; o amor nos enche de coragem.

O convite de meu irmão e minha cunhada me fez repensar a fé, o que me levou de volta para perto de Deus e de tudo aquilo em que sempre acreditei. Além disso, aprendi que um dos significados da palavra madrinha é protetora (o mesmo ocorre para padrinho, que é protetor). A sensação de ser capaz de proteger a minha afilhada e de fazer diferença na vida dela trouxe paz e conforto ao meu coração, que já estava farto da desesperança e da injustiça do mundo lá fora. E quando ela dormiu pela primeira vez no meu colo, as preocupações diárias com as contas e o trabalho, a saudade e dor de qualquer coisa e de tudo; nada mais era importante diante do amor que eu sentia. Baixinho, para ela, eu rezei: “Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa, me ilumina. Amém”.

Dia desses, visitei meus padrinhos de batismo e minha tia me deu as lembrancinhas de “patchwork” que ela faz e sempre me entrega quando nos encontramos. E, ao nos despedirmos, senti no seu abraço um amor maternal, sincero e tranquilo, daqueles que a gente não imagina viver sem.

Espero ser uma madrinha à altura das minhas. Por isso, o batismo é somente um rito de iniciação. Depois dele, há muito que fazer pela frente, pois batizar é assumir o desejo e o compromisso de zelar pelo afilhado por toda a vida e sempre.

Sim, eu aceito!